Manda brasa

O fogo e seus guardiões saídos de várias partes do país protagonizam a segunda edição paulistana do maior festival de gastronomia brasileira, que acontece em parceria com a Folha nos dias 15 e 16 de julho; prepare-se para a comilança

O chef Jaime Solares

Esquadrilha da fumaça

No fundo de um posto de gasolina, chef faz culinária confortável

Se tudo tivesse dado errado na aventura gastronômica do chef Jaime Solares, 45, ele teria ao menos uma história para contar: de quando fez um jantar brasileiro para o príncipe de Mônaco.

Mas deu tudo certo. Na época, esse belo-horizontonino tinha se mudado para a França para ganhar experiência na cozinha. Um conhecido que vivia em Mônaco o contratou. Ele teria à sua disposição a equipe do chef Joël Robuchon, considerado o cozinheiro do século.

"Aí chego eu, um jacu do mato. E as pessoas achando que eu era um star. Eu não tinha nem visto de permanência", afirma. "O jantar do príncipe foi a coisa mais surrealista da minha vida."

A batalha para servir cem pratos em três minutos foi apenas uma de suas vitórias. Aos 30, Solares largou o escritório de advocacia e a imobiliária que tinha em sociedade com a mãe e foi atrás da trajetória de cozinheiro.

"Eu ganhava R$ 6.000 e passei a R$ 600. Mas estava no país das maravilhas. E a Alice era eu", diz.

Começou no restaurante a quilo de um amigo, fez um curso técnico no Senac, foi para o requintado Ah! Bon, de Belo Horizonte. Buscou, ao mesmo tempo, ser aceito pelos cozinheiros de origem simples, numa época em que a cozinha não era exatamente uma carreira, mas a única opção profissional de muitos.

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"Eu chegava às sete e saía às duas. Sempre fui assim no trabalho e, na cozinha, ainda mais, porque é muita pressão, as pessoas se exaltam. Essa história de que chef manda panela na parede é verdade", confessa.

Na volta da França, e após passar pelo cultuado restaurante O Dádiva, também em Belo Horizonte, ele abriu a própria casa nos fundos de um posto de gasolina.

Por isso, deu o nome de Borracharia Gastrobar ao local. "Faço o simples: levar à mesa um conforto, algo para lembrar a cozinha da família", define.

Em cinco anos na França, onde cozinhou em barcos -e também com o estrelado chef Mauro Colagreco-, seu maior aprendizado, diz, foi que, se fizer o frango malfeito, o bicho morreu à toa. "A maior coisa que uma cozinha pode ter é respeito e amor por aquilo que está sendo feito", diz.

Além dos clássicos mineiros torresmo e tropeiro, Solares quis ter no cardápio a cara de Belo Horizonte. "É bem difícil desbancar o eixo Rio-São Paulo, mas a arte de receber que temos aqui transforma a nossa comida."

Ele busca originalidade a partir de receitas clássicas, como é o caso de seu arroz de suã preparado com ora-pro-nóbis, missô e shimeji.

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Gael Paim é o homem à frente da 'espeteria' da moda na capital mineira

O churrasco no palito ganhou a capital mineira. Espeterias, conforme o nome da moda, são onipresentes na animada vida noturna.

A Butchery BBQ & Drinks, no bairro de Lourdes, é uma das mais concorridas. É cena recorrente durante a semana pessoas disputando espaço na calçada e comprando fichas de cerveja e espetinhos.

O chef churrasqueiro Gael Paim, 31, será um dos responsáveis por "brasa e defumação" no festival Fartura. A expressão é um jeito de Gael deixar claro que o que ele faz é diferente de churrasco.

"No Brasil, isso ficou um pouco vulgarizado, todo mundo tem acesso a churrasco, mas nem todos têm o domínio da técnica", diz. Desde adolescente, Gael foi o churrasqueiro da família. Fez faculdade de gastronomia e, quando teve contato com o churrasco texano, mudou sua concepção.

"Churrasco não é uma coisa que se faz de última hora, merece muita atenção. Precisa ser preparado e organizado com antecedência."

O churrasqueiro é um entusiasta da carne do gado wagyu, de origem japonesa. Participa de leilões de lotes de carne e procura difundir seu uso no Brasil. "Dependendo do corte é possível pagar mais barato que uma picanha em supermercado", compara.

Antes de montar a Butchery, trabalhou no Café de la Musique de Belo Horizonte, com o chef Bruno Faro.

Gael também é responsável pelo Festival VacaTussa, que almeja difundir novos tipos de carne. "Nosso trabalho não é popularizar, mas deixar na boca das pessoas a diferença ente comer carne de qualidade e outra sem qualidade", explica.

Por causa da crise, a alta gastronomia está em baixa na capital mineira, segundo Gael. Por isso, os chefs buscam maneiras de fazer comida boa com um preço mais acessível.

Entre os destaques da Butchery estão o espetinho Serra do Curral, com cebola, blend de carne de porco e boi, toucinho, tomate seco, queijo e bacon. Outra estrela é o sushi mineiro, com blend de carnes enroladas no bacon.

Entre as carnes que vai preparar em São Paulo está a costela de wagyu assada no fogo de chão com oito horas de cozimento. "Ela termina a cocção desfiando", descreve.