Manda brasa

O fogo e seus guardiões saídos de várias partes do país protagonizam a segunda edição paulistana do maior festival de gastronomia brasileira, que acontece em parceria com a Folha nos dias 15 e 16 de julho; prepare-se para a comilança

Mulheres coralinas

Grupo inspirado em poeta goiana traz para a festa sua 'cocada-de-fita'

Frutas do cerrado e outras comuns em quintais da cidade de Goiás, antiga capital do Estado homônimo, são ingredientes de algumas das receitas clássicas preparadas pelas 71 integrantes da Associação Mulheres Coralinas, ou Ascoralinas.

O grupo, inspirado na vida e na obra da poeta goiana Cora Coralina (1889-1985), tem entre seus objetivos "abrir espaços para vozes femininas".

Neste ano, o segundo de existência da associação, esse coletivo estará representado no festival Fartura.

Duas integrantes, Ebe Maria de Lima Siqueira e Edina Maria Alves Ázara, vão executar em São Paulo a receita de doce de coco em formato de flor. Doces de mamão maduro, figo e laranja da terra serão preparados às vésperas da viagem à capital paulista para que estejam disponíveis à degustação do público do festival. A expectativa é também mostrar bordados e alguma peça em palha e argila, já que as coralinas também trabalham com artesanato.

"Será muito importante a participação no festival porque será mais uma forma de dar visibilidade para a nossa associação", afirma Siqueira, 50, presidente da entidade.

A associação é resultante do projeto Mulheres Coralinas, realizado em 2014 e 2015 com o objetivo de garantir a capacitação e a formação para 150 mulheres em áreas específicas de trabalho como cultura, artesanato e gastronomia.

"A vida e a escrita da escritora Cora Coralina inspiraram as ações propostas pelo projeto, uma vez que a poetisa foi uma mulher empreendedora e fez do trabalho sua maneira de ganhar independência financeira e intelectual", afirma Siqueira, que é doutora em literatura brasileira e professora na UEG (Universidade Estadual de Goiás).

Cora Coralina, reconhecida como grande poeta do cotidiano, escreveu "Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais" e "Vintém de Cobre", entre outros livros. Morreu aos 95 anos.

A herdeira Vicência Bretas concedeu à associação de mulheres o direito de aplicar fragmentos da obra de sua mãe nas peças artesanais que produzem.

MANÉ PELADO

Nascida em maio de 2016, a associação também tem apoio da Prefeitura de Goiás. Além dos doces mais conhecidos, produz bolo de arroz e mané pelado (de mandioca), e salgados como empadão goiano e biscoito de queijo. Entre as doçuras mais procuradas estão as flores de coco e o pastelinho, que leva doce de leite e canela.

Já os artesanatos incluem bonecas e bordados.

O grupo comercializa seus produtos em uma loja no Mercado Municipal da Cidade de Goiás e se prepara para a venda em rede, segundo a presidente da associação.

Do total de mulheres que integram as coralinas, duas vivem na área rural do município de Itapirapuã (GO). As demais são moradoras da cidade de Goiás, distante 131 quilômetros de Goiânia.

A maioria das integrantes, na faixa etária entre 35 e 72 anos, tem como única fonte de renda a venda dos doces e das peças de artesanato.