classico

100 anos do clássico

Duelo entre Corinthians e Palmeiras chega ao seu centenário. Veja histórias de jogos, ídolos e fatos que marcaram a rivalidade do dérbi paulistano

Em 1971, corintianos fizeram o gol da vitória aos 43 do 2º tempo

Memória

Histórias boleiras de uma rivalidade

Zé Maria, 67, e Marcelinho Carioca, 46, pelo Corinthians, e Ademir da Guia, 74, e Evair, 51, pelo Palmeiras, lembram da rivalidade em dérbis históricos; Luxemburgo, 64, que treinou os dois times, aponta diferenças entre torcidas.

'A virada em 1971 foi sensacional'

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Zé Maria - Jogou pelo Corinthians entre 1970 e 1983
598 jogos - 35 dérbis - 17 gols pelo clube

O jogo de 1971, o do 4 a 3, me marcou porque eu estava chegando ao Corinthians. Foi pelo Campeonato Paulista, no Morumbi.

O Palmeiras fez 2 a 0 no primeiro tempo e vi torcedores indo embora. No intervalo, tomamos uma chacoalhada do treinador [Francisco Sarno].

Depois, houve uma reação maravilhosa, com gols de Adãozinho, Tião e Mirandinha (2). E os torcedores acabaram voltando. Foi uma virada sensacional.

Mas tive derrotas também. Em 1974, pensei em parar de jogar após o 1 a 0 [derrota para o Palmeiras na final do Paulista] e pelo que ocorreu com o Rivellino [deixou o clube].

Foi terrível."

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'Não esqueço a final do Paulista de 74'

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Ademir da Guia - Jogou pelo Palmeiras entre 1961 e 1977 e em 1984
903 jogos - 57 dérbis - 154 gols pelo clube

Um jogo que ficou gravado na minha memória aconteceu em 1974.

Foi a final do Campeonato Paulista [Palmeiras 1 a 0, gol de Ronaldo], em que jogamos no Morumbi com um público de mais de 100 mil pessoas, muitos deles corintianos. Eles estavam numa fila de mais de 20 anos.

Também houve uma partida, no mesmo Morumbi [em 1971], em que estávamos ganhando de 2 a 0, depois de 3 a 2, e eles viraram para 4 a 3.

Então esses dois jogos são os que não esqueço. Um porque perdeu sem poder perder, e o outro porque ganhou o título.

Era difícil jogar contra o Santos, mas o Corinthians sempre foi o grande rival."

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'Título de 1993, contra maior rival, foi o mais importante'

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Evair - Jogou pelo Palmeiras entre 1991 e 1994 e em 1999
245 jogos - 18 dérbis - 127 gols pelo clube

No primeiro jogo da final do Paulista de 1993, eu estava no banco de reservas. Levamos 1 a 0, e o Viola [atacante do Corinthians] imitou um porco na comemoração.

Na partida de volta, joguei e fizemos 4 a 0.

É o título mais importante da minha carreira e um momento marcante na história do Palmeiras: quebrar um tabu de 16 anos e acabar com todo aquele sofrimento.

Poderíamos ter ficado mais um ano na fila, o que gerava uma sensação sufocante entre nós. Essa conquista se tornou uma questão de honra.

Mas sabíamos que nós tínhamos um grande time, o que trouxe mais tranquilidade para ganhar esse segundo jogo com facilidade.

Para os torcedores, existe mais valor [ter sido campeão contra o Corinthians] por tudo aquilo que a disputa envolveu: a imitação do porco, a gozação, os 16 anos de fila, além do fato de ser o maior rival do Palmeiras."

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'Jogar contra Palmeiras é como ataque às Torres Gêmeas'

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Marcelinho - Jogou pelo Corinthians entre 1994 e 1997, entre 1998 e 2001, 2006 e 2010
433 jogos - 29 dérbis - 206 gols pelo clube

Jogar contra o Palmeiras é como o ataque do Bin Laden às Torres Gêmeas [ele se refere à tensão gerada pelo clássico paulistano].

Cravei minha identificação com o torcedor corintiano em 2 de abril de 95, no Pacaembu, contra o Palmeiras.

O Velloso não pediu barreira para uma falta de longa distância que eu cobraria. O Roberto Carlos me falou: 'Pô, daí só eu, meu amigo'. Fiz o gol, passei por ele e disse: 'Dali, você e eu'. E ainda marquei o gol da vitória [Palmeiras 1 x 2 Corinthians].

Todos acham que o Marcos foi o meu maior rival. Na verdade, foi o Velloso.

Em 95, estudei o Velloso. Treinei com a barreira a 6,15 m [e-m vez dos 9,15 m]. Então, quando teve a falta perto da área, lembrei do treino. O Velloso achou que eu cobraria no canto dele, mas toquei por cima da barreira, de um jeito que nem o Müller [que estava sob o travessão, ao lado do goleiro] conseguiu tirar." ”.

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'Torcidas agem de modos diferentes'

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Vanderlei Luxemburgo
- Treinou o Palmeiras em quatro períodos: 1993-1995 (141 jogos), 1996-1997 (86 jogos), 2002 (31 jogos) e 2008-2009 (110 jogos)
- Treinou o Corinthians em dois períodos: 1998 (68 jogos) e 2001-2002 (67 jogos)

Tinha acabado a final do Paulista de 1993, no Morumbi, com o Palmeiras sendo campeão, e o Corinthians com três jogadores expulsos.

Aí eu olho para torcida deles [Corinthians], e vejo que os caras tiram a camisa e começam a gritar: 'Timão eô'. Eu pensei: 'Pô, eles perderam o campeonato e estão gritando Timão?'. Fui à beira do campo e gesticulei para que eles fossem embora.

São torcidas que se comportam de modos diferentes. A do Corinthians leva o time, é ela que dá o ritmo. No Palmeiras, o jogador dá o ritmo à torcida. Se a torcida tiver que chamar o time, pode ser pela vaia. A do Corinthians nunca se opõe durante os 90 minutos."

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'8 a 0 contra Corinthians foi a glória'

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Miro Moraes- historiador do Palmeiras

O Palestra, não à toa, foi campeão paulista invicto em 1933. Neste mesmo ano, foi campeão do torneio Rio-São Paulo.

O 8 a 0 do Palestra sobre o Corinthians no Parque Antárctica, pelo Paulista, foi uma tarde fatídica para eles e de glória para nós.

O Palestra vivia um momento mágico, era um time imbatível. No ano anterior, o time já tinha goleado o Santos também por oito gols.

Já o Corinthians estava esfacelado, em crise.

Caiu o presidente do time [Alfredo Schurig], e os torcedores corintianos atearam fogo na sede administrativa do clube."

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'Cidade parou para o jogo do 4º Centenário'

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Fernando Wanner - historiador do Corinthians

O jogo mais emblemático da história do clássico é o do 4º Centenário da cidade de São Paulo.

Em 1954, o título do Campeonato Paulista ia repercutir por cem anos, então a cidade parou para ver o confronto entre Corinthians e Palmeiras.

O campeonato era organizado por pontos corridos, mas calhou de ser Corinthians e Palmeiras que decidiriam tudo naquele jogo. O empate dava o título para o Corinthians [o jogo terminou em 1 a 1, no Pacaembu].

O clássico Corinthians versus Palmeiras é, na minha opinião, o maior jogo do mundo."

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