A despedida

Usain Bolt

Astro jamaicano que acumulou medalhas e fãs deixa as pistas após Mundial de Atletismo depois de transformar o esporte ao longo de dez anos de domínio absoluto nas provas de velocidade

Usain Bolt fecha revezamento 4 x 100 m e garante o ouro para a Jamaica nos Jogos Olímpicos do Rio-2016

IMPACTO

Astro revolucionou provas com descontração e carisma inigualáveis

Além das marcas impressionantes, Usain Bolt levou ao atletismo um carisma inigualável.

Sob seu domínio, as provas de velocidade sofreram uma transição. Se antes de cada largada dos 100 m e 200 m predominava o visual carrancudo e marrento de seus competidores, com o jamaicano a atmosfera se transformou.

Bolt tornou rotina fazer brincadeiras, caretas, bocas e raios pouco antes dos tiros de largada. E não apenas em provas de menos representatividade. Ele o fez ao bater recordes e conquistar medalhas olímpicas e mundiais.

"Bolt mostrou que o esporte de alto rendimento pode ser praticado com diversão, entretenimento e alegria. Com ele, as corridas eram um espetáculo, um show. A forma como ele vendeu o esporte foi sua revolução", afirmou Antonio Carlos Gomes, superintendente da CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo).

O clima festivo que o jamaicano trouxe para o pré-prova também perdurava depois das corridas, com danças, brincadeiras com fotógrafos e sorrisos.

"Ele soltou toda aquela tensão que predominava entre os atletas de velocidade", complementou Gomes.

Além do jeito descontraído, Bolt nunca passou a imagem de superatleta, embora o seja. Durante a competição que o levou ao estrelato, os Jogos Olímpicos de Pequim, confessou que era viciado em fast food (principalmente nuggets) e festas. Também gostava de manter a fama de mulherengo.

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Com os resultados sobre-humanos e o caráter humano, foi fácil arrebanhar fãs.

"Ele trouxe excitação para as pistas de corrida. Nos últimos cinco ou seis anos ele correu em praticamente todos os cantos do planeta e arrastou multidões", afirmou Richard Blagrove, professor de esporte e ciência do exercício da Birmingham City University, no Reino Unido.

"Bolt se tornou uma inspiração para todos os atletas da nova geração por seu jeito de ser."

Obviamente, Bolt também nutriu desavenças ao longo de sua carreira. Em seu livro "Mais Rápido Que Um Raio" (Planeta), o astro jamaicano fala da rusga que sempre teve com o norte-americano Tyson Gay, campeão mundial dos 100 m e 200 m em Osaka-2007, mas que se tornou seu freguês nos últimos nove anos.

Em 2015, ele também defendeu que o rival fosse banido do esporte devido ao seu caso positivo de doping –Gay foi flagrado com esteroide anabolizante em 2013 e recebeu apenas um ano de suspensão da agência antidoping dos EUA.

Vem de outro norte-americano, porém, uma das melhores definições sobre o jamaicano. Justin Gatlin, que foi vencido por Bolt nos 100 m nos Jogos Olímpicos do Rio e nos Mundiais de Moscou-2013 e Pequim-2015, afirmou que espera que o astro reconsidere sua decisão de se aposentar.

"Por trás de seu jeito brincalhão, Bolt é um verdadeiro competidor. Em minha carreira toda eu nunca corri contra alguém tão focado, determinado e competitivo", disse ele no final de julho.