Carlos Drummond - 30 anos da morte do poeta

Literatura brasileira completa 30 anos sem um de seus maiores poetas e cronistas

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Estátua do Rio

Alvo de fotos e furtos, estátua em Copacabana perdeu patrocínio

Há quem o beije, quem o abrace, quem converse com ele, quem o ouça –e todos, invariavelmente, fazem fotos com ele, tendo como cenário ao fundo o mar de Copacabana. O Drummond de bronze, sentado num banco do calçadão, tornou-se uma das estátuas mais benquistas do Rio.

Inaugurada em 30 de outubro de 2002, véspera do centenário do poeta, a estátua foi criada pelo escultor Leo Santana. Custou R$ 65 mil à época, e é uma transcrição exata de um retrato feito pelo fotógrafo Rogério Reis. Tanto na imagem quanto na escultura, Drummond está sentado de costas para o mar, com a perna direita cruzada sobre a esquerda, as mãos cruzadas sobre as pernas, segurando um livro não identificado, com o rosto inclinado para a esquerda.

Um dos segredos do sucesso da estátua é a facilidade de acesso a ela, que fica na avenida Atlântica, em frente à av. Rainha Elisabeth, numa das extremidades da praia de Copacabana. O espaço para sentar ao lado do poeta, o cenário perfeito para o enquadramento das fotos e a simpatia daquela figura esguia, careca, com visual e postura de intelectual, são igualmente convidativos.

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Nem todos se aproximam da obra com boas intenções, no entanto. Dois dias após sua inauguração, a estátua foi pichada, ação que se repetiria outras vezes. Em 2007, seus óculos foram arrancados pela primeira vez –e voltariam a ser danificados ao menos oito vezes (a prefeitura não tem registro preciso), sendo que três delas foram registradas em delegacia como furtos (em 2012, 2013 e 2015).

Em 2008, a estátua foi adotada pela multinacional francesa Essilor, dona da marca de lentes oftálmicas Varilux. A empresa financiou a colocação de uma câmera de vigilância operada pela CET-Rio, em 2009, e afirma ter recolocado os óculos da estátua quatro vezes até 2016, tendo investido R$ 48 mil ao longo dos anos.

O contrato de adoção, no entanto, foi encerrado ao fim da administração do prefeito Eduardo Paes e ainda não foi renovado. A empresa afirma estar "em contato com a Prefeitura do Rio para estudar a continuidade da parceria".

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"MAS VIVEREMOS"

Já incorporada ao cotidiano carioca, a estátua de Drummond atrai para fotos principalmente turistas. O desgaste em determinadas partes permite entender quais são as mais tocadas: o ombro direito (por quem o abraça), o braço esquerdo (por quem encosta ao lado dele), a mão direita (mais proeminente e acessível ao toque) e a cabeça.

No banco de pedra em que a escultura se assenta, há um verso do poema "Mas Viveremos", parte do livro "A Rosa do Povo" (1945): "No mar estava escrita uma cidade".

Até uma vaca já sentou-se ao lado do poeta: em 2007, uma estátua de um bovino lendo foi instalada temporariamente no banco, como parte da Cow Parade.

O poeta é pop

Na semana que antecedeu a efeméride dos 30 anos da morte de Drummond, pedimos ao leitores da Folha que enviassem fotos ao lado de alguma estátua do escritor. Em poucas horas, a Redação recebeu dezenas de imagens.

A estátua mais clicada é a que fica na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro. Veja abaixo cliques de gente de diversas cidades do Brasil batendo papo, engraxando os sapados, abraçando e até emprestando os óculos ao poeta.

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José (trecho)

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, Você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?