Carlos Drummond - 30 anos da morte do poeta

Literatura brasileira completa 30 anos sem um de seus maiores poetas e cronistas

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O poeta Carlos Drummond de Andrade ao receber o diploma de farmacêutico

O Poeta do Jornal

A poesia por 'tesão' e a crônica de jornais 'por dinheiro'

Carlos Drummond de Andrade formou-se em farmácia em 1925, mas suas fórmulas sempre foram da ordem da sintaxe. Da cadeira de professor da área de humanas, o escritor pulou para os assentos das redações. Foram mais de 6.000 crônicas ao longo da carreira, iniciada no "Diário de Minas".

Em 1929, levou sua mistura de palavras para o "Minas Gerais", órgão oficial do governo do Estado. Em 1934, passou a atuar como redator também no "Estado de Minas" e no "Diário da Tarde".

Chegou à Folha em 8 de outubro de 1942, com o texto "Vinte Livros na Ilha Deserta". Antes disso, porém, em 7 de junho de 1930, a seção "Aperitivos" publicou "Alguma Poesia", mesmo nome da primeira obra poética do autor, lançada no mesmo ano.

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Ao todo, foram 411 textos para a Folha. Em média, Drummond publicou dez artigos por ano entre 1948 e 1951; em 1952, produziu apenas um conteúdo para o jornal. Depois disso, passou 18 anos sem escrever para o diário.

Em 1978, o autor tornou-se cronista da "Ilustrada", com publicações às terças, às quintas e aos sábados, durante pouco mais de dois anos, até maio de 1980. Esse é o período de maior produção para o jornal (345 textos).

O último trabalho na Folha ocorreu exatamente um ano antes de sua morte, em 17 de agosto de 1986. Trata-se de uma tradução de um poema do espanhol Federico García Lorca, veiculada no extinto "Folhetim".

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Poema do Jornal

O fato ainda não acabou de acontecer
e já a mão nervosa do repórter
o transforma em notícia.
O marido está matando a mulher.
A mulher ensangüentada grita.
Ladrões arrombam o cofre.
A polícia dissolve o meeting.
A pena escreve.
Vem da sala de linotipos a doce música mecânica.

Em 1984, respondendo a uma pergunta do jornalista Edmilson Caminha sobre o que o realizava como escritor, Drummond afirmou que fazia crônica profissionalmente, para ganhar dinheiro.

"O jornal me paga, então eu debulho aquilo como uma coisa até meio mecânica. Uma vez ou outra é que me sinto assim com mais prazer, fora isso, faço aquilo por obrigação. Não é uma obrigação tediosa porque procuro fazer corretamente, para não chatear demais o leitor, mas sinto que às vezes chateia, porque aparecem as reações. (...) Meu tesão, mesmo, é a poesia", confessou.

Não pense o leitor que os poemas não tratavam de temas comuns às manchetes de jornais e até de denúncias. É o caso de "O Pico do Itabirito", em que Drummond aborda pressão das mineradoras em Minas Gerais.

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