Sebastião Salgado na Amazônia - Yawanawa

<b>Yawanawás</b> Um olho na tradição da floresta, outro conectado ao mundo, a comunidade yawanawá, do Acre, vive seu renascimento cultural e é referência em empreendedorismo &ndash;após ter sido dizimada e perseguida nos anos 1970

Lainara, da Aldeia Nova Esperança, recebe pintura no rosto

Artesanato com miçanga importada faz sucesso

Artesanato com miçanga importada faz sucesso

O artesanato dos índios yawanawás é marcado pela perfeição de seu acabamento. O fotógrafo Sebastião Salgado, que já visitou dezenas de culturas tribais em todos os cantos do planeta, destaca a beleza de sua arte plumária. Também os trabalhos com miçanga são referência entre os povos indígenas e têm destaque em lojas de grandes cidades brasileiras. As pequenas contas são muito usadas em peças de iluminação.

Outro elemento marcante, sempre explorado em artigos relacionados à moda e ao turismo, é a pintura corporal. Os índios produzem desenhos na pele usando urucum (vermelho) e jenipapo (preto depois recobrem as pinturas com uma resina que as mantêm por mais tempo do que durariam apenas com a tintura natural.

Assim como a língua e a memória dos mitos e rituais, essas técnicas foram recuperadas ao longo das últimas décadas. Elas estavam restritas às pessoas mais velhas, que passaram a transmitir às novas gerações esses saberes tradicionais. Hoje, os cocares têm uso ritual e não fazem parte da vestimenta diária dos índios. Exatamente por isso são muito bem conservados.

Muitos adereços plumários dos líderes são feitos com penas de gavião-real, ave de rapina que, segundo a mitologia, deu origem a todos os índios de língua pano. Por isso as coroas de penas têm predominantemente as cores branca e cinza.

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Já as pulseiras e os colares de miçangas são multicoloridos. Embora pareçam abstratos aos olhos de não índios, os desenhos geométricos representam animais.

Há muito tempo as miçangas industrializadas substituíram as sementes e os dentes de animais que eram usados como matéria-prima. Elas são importadas da República Tcheca, onde a produção das contas de vidro está concentrada na pequena cidade de Jablonec.

O líder Biraci Nixiwaká visitou Jablonec no ano passado para conhecer melhor o produtor de algo que se arraigou profundamente na cultura dos yawanawás e de outras etnias brasileiras: "Fiquei admirado. Eles me disseram que os povos indígenas respondem por 70% das vendas". No Brasil, até mesmo grupos de pouco contato com não índios usam miçangas importadas.

Os yawanawás consomem muitos quilos de contas de vidro por ano. Em 2016, o consumo foi de uma tonelada, para atender à demanda de uma parceria com uma loja de decoração de São Paulo.

Falando da mudança das matérias-primas tradicionais para as contas industrializadas, Biraci ri e diz: "É um sinal dos tempos: as coisas estão aqui, ao nosso alcance. A gente não pode recusar a modernidade".

Aos 80 anos, pianista João Donato tocou na aldeia com coral local

Nascido em Rio Branco, o pianista João Donato decidiu ir a seu estado natal em 2013, pouco antes de fazer 80 anos, e visitou a aldeia Nova Esperança. O episódio está na memória da tribo. Com um teclado, ele acompanhou um coral de crianças que cantavam histórias dos yawanawás. Em seguida, tocou composições suas. No ano seguinte, em agosto, convidou o músico Shaneihu Yawanawá para tocar no Rio de Janeiro, no show de comemoração de seu 80º aniversário.

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