Descrição de chapéu Independência, 200

200 anos, 200 livros

Conheça 200 importantes livros para entender o Brasil, um levantamento com obras indicadas por 169 intelectuais da língua portuguesa

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Angela de Castro Gomes

Professora titular aposentada da UFF (Universidade Federal Fluminese) e editora da revista Estudos Históricos

As indicações de Angela de Castro Gomes

10º

Este livro promete e cumpre realizar algo extremamente difícil para qualquer historiador(a): escrever uma história 'geral' do Brasil, no caso, de 1500 a 2000. São poucas as iniciativas que encaram uma longa temporalidade como essa. Melhor dizendo, sempre foram poucas, a começar pela 'História do Brasil' de [Francisco Adolfo de] Varnhagen de meados século 19, que se tornou o exemplo a ser superado por Capistrano de Abreu, o que nunca aconteceu. Aliás, a demanda por uma história geral do Brasil, na Primeira República, tornou-se uma espécie de insistente cobrança para Capistrano, que acabou sendo realizada, de maneiras diversas, por um historiador, como Rocha Pombo e um ensaísta, como Manuel Bonfim. Depois deles, vieram os ensaístas dos anos 1930 e 1940, alguns se tornando os mais clássicos intérpretes do Brasil. Uma nota especial, avançando muito no tempo, seria a do livro de Boris Fausto, também 'uma' das histórias do Brasil, muito rica e bem desenvolvida, que continua tendo públicos importantes. O livro escolhido pode integrar esse longo caminho, e a menção acima quer apenas destacar como a demanda por um texto de história 'geral' possui um longo passado, povoado por uma literatura que assume muitos formatos narrativos e interpretativos. Daí a estratégica escolha das autoras por 'uma biografia' do Brasil, e não por 'uma história geral' do Brasil, o que aponta para um formato que afasta a tentação pela totalização. Esse livro não é 'a' história do Brasil, nem mesmo 'uma' história que 'tudo' quer abarcar. A escolha do gênero literário explicita as outras escolhas que foram compondo a escrita do livro, desde as temáticas de fundo, que funcionam como uma coluna vertebral, até os eventos e personagens que vão sendo apresentados e compõem o desenrolar da narrativa. Daí uma densa narrativa cronológica, distribuída em 18 capítulos (não muito longos) que se arranjam pelo debate de questões e temas que cruzam a temporalidade de seis séculos: a escravidão e o racismo; a grande propriedade e a luta pela terra; o patriarcalismo e o machismo; a centralização política e o federalismo; o autoritarismo e a violência; as lutas por direitos, as lutas identitárias e a luta pela democracia. Enfim, as muitas lutas já travadas e as que deverão ainda ser travadas, com urgência. Talvez, com um melhor entendimento da sociedade em que vivemos, constituída por dimensões de nosso passado histórico, que se encontra 'dentro' de cada um de nós.

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Indicações fora da lista

Esta é uma coleção ambiciosa e muito bem realizada, composta por cinco volumes, que acompanham a história do Brasil nação, a partir do marco do ano de 1808, quando da chegada do príncipe regente dom João à América portuguesa, que se tornaria o centro do império colonial português. Lançados entre 2012 e 2014, os volumes que formam a coleção reúnem um conjunto de reconhecidos especialistas na história dessa colônia, monarquia e república, desde o século 19 até as primeiras décadas do século 21, quando o Brasil vivia sob a Nova República, estabelecida pela Constituição de 1988. Os cinco volumes são: I - 'Crise Colonial e Independência: 1808-1830', sob a coordenação de Alberto da Costa e Silva; II - 'A Construção Nacional: 1830-1889', sob a coordenação de José Murilo de Carvalho; III- 'A Abertura para o Mundo: 1889-1930', sob a coordenação de Lilia M. Schwarcz; IV - 'Olhando para Dentro: 1930-1960', sob a coordenação de Angela de Castro Gomes; V - 'A Busca da Democracia: 1960-2010', sob a coordenação de Daniel Aarão Reis. São várias as razões para que a coleção seja uma referência preciosa para se entender o Brasil, a despeito da complexidade da tarefa. A começar por seu suporte material, já que os livros possuem belo projeto gráfico, rico em iconografia, que cumpre o papel, tanto de atrair e motivar o leitor, por seu volume e cores; como de integrar a narrativa textual, com ela dialogando e agregando significados. Além disso, cada um desses volumes possui a mesma estrutura interna, o que dá homogeneidade ao conjunto, facilitando a leitura que pode se fazer, inclusive, de mais de uma forma. Ou o leitor percorre os capítulos de um volume, orientando-se cronologicamente; ou o leitor toma o tema de um dos capítulos, que se repete em todos os volumes, e o acompanha atravessando a coleção e suas temporalidades. Além de uma introdução e uma conclusão, cada volume se organiza por meio de recortes que privilegiam: a população e a sociedade; a vida política; o Brasil no mundo; o processo econômico; a cultura. Quero ressaltar a extrema qualidade dos historiadores que se encarregaram de colaborar em todos os volumes, e o trabalho dos coordenadores e coordenadoras ao produzir diálogos entre os capítulos e destacar as chaves de leitura de cada período recortado. Os volumes da coleção também possuem uma cronologia, que funciona como bússola de navegação para a leitura. Por fim, insisto na possibilidade da coleção construir uma visão abrangente de várias dimensões da formação do que se chama de nação brasileira, capaz de interessar quer um público leitor não especializado, quer a um público de pares do ofício de ensinar.