Descrição de chapéu Independência, 200

200 anos, 200 livros

Conheça 200 importantes livros para entender o Brasil, um levantamento com obras indicadas por 169 intelectuais da língua portuguesa

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Boris Fausto

Historiador, é professor aposentado do departamento de ciência política da USP e autor de livros como "A Revolução de 1930"

As indicações de Boris Fausto

50º

Manolo Florentino foi um dos historiadores brasileiros que mais contribuiram para elucidar o tráfico de escravos, da costa atlântica da África à América portuguesa. Seu livro, 'Em Costas Negras: Uma História do Tráfico de Escravos entre a África e o Rio de Janeiro', editado pela primeira vez pela editora da Unesp, em 2015, faz um minucioso levantamento do tráfico negreiro para o Rio de Janeiro dos séculos 18 ao 19, demonstrando que o tráfico foi um negócio de 'brasileiros' e depois, de brasileiros no Brasil independente. Florentino demonstrou que a escravidão foi o negócio mais estável da América Portuguesa e do Brasil, superando, por exemplo, o latifúndio açucareiro, sujeito a ventos e trovoadas. A inclinação das nossas camadas dominantes revelou-se no 'arcaísmo como projeto', no dizer do autor, em livro lançado em parceria com seu colega João Fragoso.

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95º

O livro de Laura de Mello e Souza, 'O Diabo e a Terra de Santa Cruz', é um dos textos mais incisivos escritos por brasileiros que tomaram o caminho da história das mentalidades, explorando o imaginário português sobre o Brasil, com apoio em fontes diversas, como os processos oriundo das devassas eclesiásticas e os autos da fé do Santo Ofício, assim como os relatos de cronistas, viajantes e missionários. Laura completa e retifica a imagem pintada por Sérgio Buarque de Holanda, demonstrando que a visão edênica da 'descoberta' do Brasil foi permeada de terrores. A infernalizaçao da colônia e sua inserção no conjunto dos mitos edênicos caminharam juntos, elucida ela, durante o processo da colonização ancorado na fé e na sua negação.

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Indicações fora da lista

Considero o melhor estudo das Forças Armadas - principalmente do Exército - até hoje publicado. Num ensaio inaugural, intitulado 'Uma República Tutelada', o autor adverte que até hoje vivemos como se o regime democrático precisasse de uma bengala, de um poder moderador, que se arroga o direito de intervir quando julgue que a estabilidade do sistema político corre riscos, para garantir o império da lei e da ordem. A análise de José Murilo percorre desde a formação das Forças Armadas brasileiras até os dias de hoje, tomando-as como 'instituições totais'. Surge daí uma análise estrutural, desde a guerra do Paraguai, com seus 'tarimbeiros' voltados ao ofício da guerra, à aparição do soldado-cidadão, que tanto influenciou a proclamação da República, e depois a especialização do Exército, como por exemplo, 'os jovens turcos', inspirados nas doutrinas alemãs e no 'kemalismo' da Turquia moderna. Assim, as intervenções militares, no dizer do autor, derivam tanto da formação das Forças Armadas desde os tempos imperiais, passando pelo tenentismo (ideologia, critérios de recrutamento, de promoção, etc.), quanto das vicissitudes da vida social e dos processos políticos, numa interação que salta aos olhos nos dias que correm.