Descrição de chapéu Independência, 200

200 anos, 200 livros

Conheça 200 importantes livros para entender o Brasil, um levantamento com obras indicadas por 169 intelectuais da língua portuguesa

voltar para lista

Milton Hatoum

Romancista e tradutor, é autor de livros como "Dois Irmãos" e "Pontos de Fuga"

As indicações de Milton Hatoum

O fazendeiro e ex-chefe jagunço Riobaldo narra a um ouvinte da cidade histórias de amor e batalhas. Dezenas de personagens percorrem o centro-norte de Minas Gerais, cuja natureza e cultura --vivenciada e estudada pelo autor-- são consubstanciais à narrativa. Mas nesse mundo de tantos sertões há outro, igualmente vasto, rico e complexo: o mundo interior, subjetivo das personagens. 'Sertão: é dentro da gente.' Riobaldo põe em dúvida suas próprias afirmações e questiona certezas. No curso de sua longa fala, o narrador parece abarcar tudo, em camadas misturadas: histórica, social, política, amorosa, metafísica, simbólica. O resultado é um romance luminoso, em que um dos protagonistas é a linguagem.

Ir para página do livro chevron_right

Durante 12 anos, Bruce Albert conversou em yanomami com o xamã Davi Kopenawa. As conversas, gravadas e anotadas, foram traduzidas e editadas por Albert. Trata-se de um belíssimo e fecundo 'pacto etnográfico' entre o xamã e o antropólogo. Kopenawa fala de sua vida, de sua sabedoria xamânica, de sua experiência no mundo dos brancos, da cosmologia e da história dos yanomami. Uma história que tem resistido a muitas tragédias: doenças transmitidas pelos brancos, ingerência nefasta de missionários evangélicos e sucessivas invasões das terras indígenas por garimpeiros. Uma dessas invasões culminou no massacre de Haximu, em meados de 1993. É preciso conhecer, valorizar e defender a história material e espiritual dos povos originários do Brasil, essa pátria cada vez mais armada que amada.

Ir para página do livro chevron_right

Um dos pontos altos do modernismo, busca uma síntese da formação antropológica do brasileiro. A linguagem dessa rapsódia, com fortes componentes oral e poético, é elaborada com palavras, expressões, lendas e mitos indígenas e africanos, e recorre à paródia para criticar a linguagem pomposa e bacharelesca do colonizador português. O epílogo pessimista e melancólico parece antever a devastação da natureza e de seus povos autóctones. '...aqueles matos misteriosos, tudo era solidão do deserto [...] O deserto tamanho matava os peixes e os passarinhos de pavor e a própria natureza desmaiara e caíra num gesto largado por aí [...] A tribo se acabara, a família virara sombras, a maloca ruíra...'

Ir para página do livro chevron_right
10º

Escrito sob uma perspectiva crítica, este livro narra o processo histórico do país, com seus contrastes, ambivalências e inúmeras contradições. Um dos feitos dessa biografia é desmistificar os discursos oficiais, assimilados pelo senso comum. Um deles –talvez o mais insidioso– é a afirmação reiterada de que não há racismo na sociedade brasileira, sempre ordeira, pacífica e harmônica. Em verdade, a vida do país ao longo de séculos é marcada por um continuum de insurgências e revoltas dos escravizados (afrodescendentes e povos originários) e de movimentos populares. Nesse sentido, o livro analisa passagens e eventos relevantes da história política, social, econômica e cultural do país, sem perder de vista os brasileiros que, com frequência, são esquecidos ou ocultados. As ilustrações (fotos, pinturas, desenhos, cartazes) e uma extensa bibliografia enriquecem o volume, que termina a um passo do período mais tenebroso da história republicana.

Ir para página do livro chevron_right
13º

O autor analisa as origens, a evolução e os desdobramentos da natureza do Estado brasileiro, cuja feição 'moderna' (ou pré-moderna) mantém em sua estrutura características de uma sociedade estamental e extremamente burocratizada, baseada em privilégios de classe e relações patrimonialistas. Essa estrutura rígida travou o avanço do liberalismo político e econômico e, consequentemente, do capitalismo moderno no país. Mais de seis décadas após sua publicação, 'Os Donos do Poder' explica, pelo menos em parte, as relações viciosas entre o Estado e grande parte da elite econômica do país.

Ir para página do livro chevron_right
13º

A vida e a obra de Abdias são inseparáveis. A experiência desse intelectual, artista e ativista do movimento negro resultou nesse livro importante para compreender e combater o racismo, entranhado há séculos na sociedade brasileira. Além disso, o desempenho político de Abdias na Câmara e no Senado foi decisivo para criminalizar o racismo e para incluir os negros em instituições públicas e privadas.

Ir para página do livro chevron_right
23º

Num ensaio seminal, o crítico e filósofo Benedito Nunes ressaltou: 'Clarice Lispector escreveu uma ficção que pensa, uma ficção indagadora e reflexiva, em que a linguagem é o objeto da narrativa, e a existência, um problema de expressão e comunicação'. O leitor, perplexo, se envolve nessas indagações e reflexões. Neste romance, o narrador Rodrigo S.M., 'absolutamente cansado de literatura', parte em busca 'da palavra no escuro', à espera da morte. Nessa espera agônica, escreve um texto fragmentado, em que narra a história da nordestina Macabéa, uma personagem descentrada, deslocada ou excluída na metrópole. Uma das figuras mais comoventes da literatura brasileira.

Ir para página do livro chevron_right
33º

Em relação aos livros anteriores do grande poeta, 'Claro Enigma' é um ponto de inflexão, na forma e no conteúdo. Mesmo assim, nos sonetos e poemas com versos rimados e de feitio clássico vibram as inquietações e conflitos de 'A Rosa do Povo' e 'Alguma Poesia'. No belo posfácio dessa edição, Samuel Titan Jr. assinala: 'Claro Enigma é profundamente marcado por um sentimento da história, por uma noção expandida de história em que se cruzam o familiar e o público, o amoroso e o político – sempre de uma maneira cifrada'.

Ir para página do livro chevron_right
95º

Um dos grandes escritores pós-simbolista, Bandeira é um mestre da poesia moderna de língua portuguesa. Em vários livros ('A Cinza das Horas', 'Carnaval', 'O Ritmo Dissoluto'...) explorou liricamente o que há de mais humilde e prosaico nos seres e nas coisas. No modo aparentemente simples de se expressar, Bandeira trata de questões difíceis, que só se revelam com um apurado olhar crítico. 'Libertinagem' é um dos livros centrais do autor pernambucano e da poesia brasileira.

Ir para página do livro chevron_right
95º

Rubião, um humilde professor de Barbacena, recebe uma herança polpuda de Quincas Borba, um filósofo amalucado, autor do 'Humanitismo', uma sátira à filosofia positivista e ao cientificismo do século 19. A herança inclui um cão, com o mesmo nome do dono. Rubião sai da província e vai viver como um nababo na corte. Mas já na viagem de trem ao Rio de Janeiro, conhece o casal Cristiano e Sofia Palha. Rubião apaixona-se por Sofia, mas não conquista a mulher e perde toda sua fortuna. A história dessa dupla desgraça - amorosa e material -, é ambientada na década de 1860. Com ironia, crueldade, comicidade, e sem a afetação erudita de Brás Cubas, Machado constrói grandes personagens - arrivistas, ambiciosos, trapaceiros, compassivos - num contexto de crise política do Segundo Reinado, ou seja, em plena escravidão. Ambicioso, mas ingênuo, Rubião é burlado por (falsos) amigos, principalmente Cristiano Palha, um empresário e especulador financeiro 'que tinha amor aos bancos, e morria por um'. A loucura e a miséria selam o destino de Rubião.

Ir para página do livro chevron_right
95º

O narrador Paulo Honório - que foi 'guia de cego, vendedor de doce e trabalhador alugado' - comete crimes para enriquecer. Rouba a fazenda do filho do ex-patrão e torna-se um 'explorador feroz'. Segundo Antonio Candido, Paulo Honório é possuído por uma paixão: o 'sentimento de propriedade', cuja força transcende o próprio personagem. Este, por sua vez, age como um dínamo que transforma a arruinada São Bernardo numa fazenda moderna.

Ir para página do livro chevron_right