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É correta decisão do governo de São Paulo de separar alunos por ciclo escolar?

Rose Neubauer

A escola que faz diferença

Estudos e pesquisas sobre desenvolvimento e cognição de crianças e jovens mostram que eles têm padrões de aprendizagem diferenciados e requerem espaços e situações de aprendizagem diversos.

Revelam, ainda, que a organização do espaço da escola e da sala de aula influencia a aprendizagem e o ensino. Permite à escola e ao professor fazer diferença e aumentar as chances de sucesso dos alunos.

Isso ocorre porque crianças de 6 a 10 anos devem estudar em espaços bem sinalizados, com mobiliário adequado, que lhes propiciem segurança e orientação. Nessa idade, a aprendizagem exige concretude: manipular materiais e livros, recortar e classificar, interpretar gravuras, maquetes.

Os materiais devem estar na sala de aula, estimular os alunos à descoberta. Os espaços ao ar livre devem propiciar jogos e brincadeiras, com escorregadores, gangorras etc.

Os pré-adolescentes e jovens, por sua vez, requerem equipamentos pedagógicos e espaços mais conformes ao seu desenvolvimento cognitivo e emocional: computadores, laboratórios, bibliotecas. A quadra poliesportiva aqui é fundamental para práticas coletivas, atividades musicais, teatrais e outras que estimulem o protagonismo juvenil.

Esse é o modelo de escola que existe em países onde o ensino é de boa qualidade e nas escolas brasileiras bem classificadas nas avaliações nacionais, pois considera-se fundamental a existência de prédios, salas de aulas e equipes pedagógicas específicas para as diferentes faixas etárias.

O modelo pedagógico atual de várias escolas da rede estadual paulista, no qual crianças pequenas, adolescentes e até adultos convivem e ocupam as mesmas salas de aula, desconsidera suas diferenças biológicas, cognitivas e psicológicas. Isso compromete a existência de ambientes de aprendizagem adequados, dificulta a atuação da equipe pedagógica e impede a melhoria da qualidade do ensino.

Consequentemente, a reorganização das escolas paulistas é urgente, necessária e importante. Separar os alunos em diferentes tipos de escolas (crianças de 1ª a 5ª séries; pré-adolescentes de 6ª a 9ª séries; jovens do ensino médio) possibilitará adequar instalações físicas, mobiliários e materiais a cada nível de ensino e de faixa etária.

A medida promove a fixação do corpo docente em uma ou, no máximo, duas escolas. O funcionamento das mesmas séries nos vários turnos da escola (manhã, tarde e noite) ampliará a oferta de aulas aos professores em uma única escola, racionalizando, inclusive, a jornada de trabalho do corpo docente.

Também potencializará a implementação, pela equipe escolar, de um projeto pedagógico para alunos com características semelhantes e diminuirá a prática do “bullying” e de outros tipos de violência contra os mais jovens.

Além disso, a medida dificulta a ação de interceptores de drogas em escolas de crianças e pré-adolescentes pela presença de familiares nas redondezas dessas escolas.

Esse é o modelo de escola que as famílias desejam e que professores comprometidos com a qualidade do ensino consideram mais adequado.

A população não deve se deixar enganar por argumentos falsos de que a evasão irá aumentar, salas ficarão superlotadas e o número de classes será reduzido. São Paulo tem hoje população decrescente e o maior percentual de crianças e jovens brasileiros nas escolas. A reorganização é o salto para o futuro, a garantia de uma melhor educação.

O que ocorrerá se prédios ficarem vazios? Serão transformados em outros equipamentos que a população necessita: escolas técnicas, postos de saúde, pré-escolas e creches.

Rose Neubauer, 70, é presidente da Câmara de Ensino Superior do Conselho Estadual de Educação de São Paulo e do Instituto Protagonistés. Foi professora da Faculdade de Educação da USP, da PUC-SP e pesquisadora da Fundação Carlos Chagas