Habitat

um podcast sobre extinção e o que a gente tem a ver com isso

episódios da série

Salamandra se oculta sob as folhas e tenta sobreviver a avanço da cidade

Habitat faz expedição ao Pará e atravessa mar de grilos e aranhas em busca de anfíbio ameaçado

Santa Bárbara do Pará (PA)Vista de cima, a Amazônia é como um oceano de árvores. É verde até onde o olho alcança, cortado aqui e ali por rios de águas escuras —e pelas manchas acobreadas do desmatamento.

O bioma ocupa 58% do território brasileiro. Na primeira vez que vimos esse mar verde ficou muito mais fácil entender por que a floresta é um dos lugares mais biodiversos do mundo. É muita planta, muito bicho, muita vida.

Pelo chão, um dos caminhos que leva para dentro da Amazônia é por Santa Bárbara do Pará (PA), vizinha de Belém. É no entorno da capital que vive uma das quatro espécies de salamandra encontradas no Brasil, a salamandra-do-Pará (Bolitoglossa paraensis). Foi ela que nos fez viajar mais de 2.800 quilômetros.

O território da salamandra é disputado pelas cidades, o que inclui indústrias, como a do óleo de dendê. A rodovia que leva até o fragmento de floresta do Parque Ecológico de Gunma é cercada por fazendas de palmeiras e casas à beira da estrada. Quando estamos viajando por ela, é visível o avanço sobre a Amazônia. O desmatamento é um dos principais fatores que colocam a salamandra-do-Pará sob risco de extinção.

De acordo com a IUCN (União Internacional Para a Conservação da Natureza), responsável pela lista mundial de espécies ameaçadas, os anfíbios são a classe do reino animal que mais corre risco. Uma em cada sete espécies de anfíbios do planeta está na Amazônia.

Depois de um voo até Belém e mais duas horas de viagem de carro, chegamos à beira da mata. Em meio ao calor e à umidade, a chuva cai a qualquer momento, mas não refresca. É uma sensação de estufa, especialmente em meio à pandemia da Covid-19 —com a respiração abafada pela máscara. Aliás, a única coisa que consegue vencer essa barreira contra o vírus é o cheiro de terra molhada.

É no Gunma que o biólogo Pedro Peloso, herpetólogo e professor da Universidade Federal do Pará, se embrenha para acompanhar a salamandra-do-Pará e estudar os hábitos dela. À noite, ele identifica animais pelo canto e usa o facho de luz da lanterna para diferenciar folhas secas de sapos que estão à espreita.

Também é assim que a diversidade do bioma aparece: não só nos pássaros que cantam durante todo o dia e nas árvores que escondem a luz do sol, mas também em cogumelos que passam quase despercebidos e nas aranhas que estão por todos os lados.

Defensor da floresta em pé, Peloso considera que o progresso e o desenvolvimento na Amazônia devem priorizar regiões que já estão desmatadas. Assim, as áreas preservadas continuam sendo a casa de seres que a ciência ainda nem conhece.

A salamandra-do-Pará é um animal de hábitos noturnos. Isso quer dizer que, durante o dia, ela fica escondida. À noite, é mais fácil dar de cara com ela.

O pesquisador levou a mulher, a também bióloga Silvia Pavan, e os dois filhos, Lia e Davi, na expedição noturna. Embalados pelo som de pererecas e grilos, fomos andar no meio da lama e da mistura de folhas, galhos e frutos que cobre o chão da floresta -e testar se nossas botas eram realmente impermeáveis.

O sapato da Lia, uma galocha cheia de purpurina, ilustrada com a princesa Elsa, do filme "Frozen - Uma aventura congelante", poderia enganar os desavisados. Ao contrário do irmão mais novo, ela tem espírito aventureiro e o olhar aguçado de quem é acostumada a ver a natureza como um mundo a ser desvendado.

Ela e o pai nos incentivavam a desafiar nossos medos e pegar na mão tanto as pererecas coloridas como os bichos mais esquisitos —o amblipígio, por exemplo, que parece uma mistura de aranha com escorpião.

Neste episódio, o Habitat viaja para a Amazônia e tenta encontrar a salamandra paraense, camuflada nas folhas da maior floresta tropical do mundo.

.galeria(https://galerias.folha.uol.com.br/galerias/1709825087545737-bastidores-do-primeiro-episodio-do-podcast-habitat.jsonp?callback=callback1709825087545737)

Pesquisa, roteiro e produçãoJéssica Maes e Natália Silva

Edição de textoMagê Flores e Maurício Meireles

Edição de somNatália Silva

MentoriaBia Guimarães

Edição de arteThea Severino e Kleber Bonjoan

Design e desenvolvimentoPilker, Thiago Almeida e Irapuan Campos

Coordernação de interativoRubens Fernando Alencar

Ilustrações e infografiaLuciano Veronezi

Versão impressaFernanda Giulietti e Maicon Silva

DivulgaçãoMateus Camillo e Rebeca Oliveira

ApoioInstituto Serrapilheira