Desigualdade na recessão
Falta de produtividade comprometeu o ritmo de queda na desigualdade
18.set.2017 - 02h00
A crise recente trouxe o pior resultado desde 1989 no processo de diminuição da desigualdade no país monitorado pelo FGV Social.
"Foi um desastre, mas a crise veio após anos muito positivos no mercado de trabalho e alguns programas sociais", diz Marcelo Neri, diretor do FGV Social. "Em termos de pobreza, voltamos a 2012, mas não a 2003."
Até a crise, diz, "tudo jogou a favor: desemprego em queda, mais formalidade, arrecadação e renda em alta e a desigualdade caindo".
"Nesse ínterim, o 'motor do navio' quebrou e batemos na 'ilha fiscal'. Daí a necessidade de reformas", diz, sobre o rombo nas contas públicas.
Neri afirma que, apesar dos bons resultados até a crise, não houve ganhos de produtividade para tornar o processo sustentável.
Mais educação também não suscitou melhora da capacidade produtiva e a maior expectativa de vida, mudanças na Previdência.
Pelos critérios do FGV Social, até a crise, quanto mais pobre, maior foi a melhora na renda, o que levou à diminuição da desigualdade.
Estudos recentes incorporando a base de dados do IR dos 10% mais ricos alegam que a desigualdade não caiu no Brasil no período de 2007 a 2015.
Com esse ajuste dos dados, a desigualdade entre brasileiros seria maior e cairia menos. Por outro lado, diz Neri, "seguindo este mesmo ajuste dos dados, a renda média do brasileiro seria maior e cresceria mais".
"Se temos mais desigualdade, temos também mais crescimento. A renda de quem declara IR subiu três vezes mais que o PIB."
Outro indicativo da queda na desigualdade seria que, entre 2003 e 2014, enquanto o PIB aumentou 28% e a renda média dos brasileiros, 62%, o comércio cresceu 112%.
"Em que pese o aumento no crédito, o que explica a diferença entre a alta do PIB e o comércio é a combinação de menos desigualdade com mais renda. Sem isso, a conta não fecha", diz Neri.