os 500 são outros

Ao desafiar um papado que via como corrupto, Martinho Lutero pôs em marcha a Reforma Protestante, que mudaria o curso da história e daria origem às neopentecostais no Brasil

Pioneiros no Brasil

Fundadores de primeira igreja protestante no Brasil falavam tupi

Os primeiros protestantes brasileiros falavam tupi. Há quem atribua à congregação fundada no século 19 pelo escocês Robert Reid Kalley, no Rio de Janeiro, o título de primeira igreja evangélica fundada em território brasileiro.

A historiadora Jaquelini de Souza, no entanto, lança o argumento de que índios potiguaras formaram uma igreja protestante dois séculos antes de Kalley. Autora de "A Primeira Igreja Protestante do Brasil: Igreja Reformada Potiguara" (Ed. Mackenzie, 136 págs., 2013, R$ 20), Jaquelini investigou a história da "tupãóka" (igreja) potiguara, que nasceu por volta de 1630, na região da atual Paraíba, em meio à ocupação holandesa.

O primeiro contato entre índios e batavos se deu provavelmente em francês. A língua teria sido anteriormente ensinada aos nativos brasileiros por piratas, segundo a historiadora.

Pedro Poty e Antônio Paraupaba, dois membros da "elite" indígena local, foram levados aos Países Baixos, que já eram uma nação protestante naquela época.

Na Europa, receberam "o melhor da educação holandesa" e se converteram ao protestantismo. De volta ao Brasil, exerceram cargos de liderança na Nova Holanda, que incluíam tarefas de auxílio na cooptação de índios para o lado holandês e tradução, em meio à guerra entre portugueses e batavos.

Com a vitória lusitana, os índios protestantes se refugiaram no Ceará, na serra do Ibiapaba. Antônio Paraupaba foi à Europa, em busca de ajuda dos holandeses. Lá, segundo Jaquelini, ele disse algo como "estamos esperando por vocês".

A ajuda não veio. O último registro de índios protestantes na região é de meados da década de 1690.

Comei, é meu corpo

Um dos pontos defendidos por Martinho Lutero, teólogo que deu início à Reforma Protestante, na Alemanha, era que a fé cristã deveria ser professada nas línguas vulgares dos fiéis, e não somente em latim. Fosse em alemão ou em tupi, todos deveriam poder conversar com Deus no idioma nativo.

No Brasil holandês, planejou-se a escrita de catecismos (conjunto de princípios religiosos) em tupi, mas o projeto foi abandonado.

O estereótipo do canibalismo que ainda recaía sobre os nativos brasileiros fez com que o sínodo de Amsterdã mudasse de ideia. A parte do texto que fala sobre "comer a carne de Jesus" poderia ser interpretada erroneamente, diz Jaquelini.