Quem entra nos corredores do térreo vê lojas vazias, mas também espaços recentes dividindo a área com negócios tradicionais. O aroma do expresso recém-tirado vindo do tradicional café Floresta, há 40 anos no mesmo local, concorre com o cheiro de vegetais de lojas de alimentos orgânicos e de tacos do mexicano La Central, aberto em 2014.

Criado em 1945, o BNI (Banco Nacional Imobiliário) chamou o arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012) para projetar edifícios em São Paulo. O convite foi feito por Octavio Frias de Oliveira (1912-2007), um dos sócios do BNI. Em 1962, Frias compraria a Empresa Folha da Manhã, núcleo do Grupo Folha, do qual foi publisher.

Com saídas diretas para a rua que separa o Copan do edifício vizinho, do Bradesco, dois lugares simbolizam a nova fase do prédio: o Bar da Dona Onça, mix de bar tradicional e pratos bem servidos, e o Pivô, espaço cultural que expõe trabalhos e reúne ateliês de artistas.

As duas atrações reforçam a vocação alardeada durante o lançamento do conjunto, em 1951: o de complexo turístico. Seu projeto foi pensado para ser o “Rockefeller Center Paulistano”, um enorme espaço com 500 quartos de hotel, residências, escritórios, cinema, teatro e lojas.

O Copan possui 46 mil metros quadrados de fachadas cobertas por pastilhas, que estão sendo trocadas. A reforma, que deve terminar em 2019, está estimada em R$ 23 milhões

A campanha publicitária do Copan tinha como slogan "chuva de dólares para o país", que imaginava atrair muitos turistas para região.

No lançamento do conjunto, em 1951, o Copan foi anunciado como o futuro “Rockfeller Center Paulistano”, um enorme espaço com 500 quartos de hotel, residências, escritórios, cinema, teatro e lojas. Em 1952, os apartamentos residenciais foram colocados à venda e o hotel ficou para depois.

Na década de 1950, o mercado imobiliário paulistano assistiu a um boom na construção de prédios de menor porte na região central, voltados para a classe média, com prestações a perder de vista. O Copan fez parte dessa onda.

Criado em 1945, o BNI (Banco Nacional Imobiliário) chamou o arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012) para projetar edifícios em São Paulo. O convite foi feito por Octávio Frias de Oliveira (1912-2007), um dos sócios do BNI. Em 1962, Frias compraria a Empresa Folha da Manhã, atual Grupo Folha. A parceria rendeu outros prédios na região central, como o Montreal, o Eiffel e o Califórnia.

“Copan” é uma abreviação de Companhia Pan-Americana de Hotéis e Turismo, o nome da sociedade feita entre o BNI e a International Hotels Corporation, dos EUA, para construir o conjunto. A empresa americana abandonou a parceria e nenhum hotel foi feito.

Niemeyer fez o desenho em forma de S para seguir o contorno do terreno. “A rua era curva, e ele [o prédio] seguiu essa curva. Nada mais natural”, contou o arquiteto à Folha em 2006.

Terça a sexta: 13h às 20h. sábado: 13h às 19h.

Av. Ipiranga, 200, bl. A, lj. 54 - Centro - .Telefone: 3255-8703

O projeto final foi desenhado pela equipe do escritório paulista de Niemeyer ao longo de 72 horas de trabalho contínuo, durante uma das visitas do arquiteto à capital.

Niemeyer evitava andar de avião e a viagem de carro entre Rio e São Paulo era demorada e feita por estrada de terra. “Com isso, suas vindas a São Paulo eram evitadas tanto quando fosse possivel”, conta Carlos Lemos, ex-chefe do escritório paulista de Niemeyer, em seu livro “A História do Edifício Copan”.

As obras começaram em 1953, mas pararam no ano seguinte porque o BNI enfrentou problemas financeiros

Durante a obra do prédio, foi preciso alterar parte das fundações, pois elas não se acomodaram bem no terreno. A solução encontrada à epoca estabilizou o problema. Em 2014 foi detectado que o Copan afundou 33 cm desde sua construção. Esse fenômeno, chamado de recalque, é comum em prédios.

Terça a sexta: 13h às 20h. sábado: 13h às 19h.

Av. Ipiranga, 200, bl. A, lj. 54 - Centro - .Telefone: 3255-8703

Em 25 de maio de 1966, o Copan recebeu seu primeiro habite-se e os novos moradores começaram a ocupar os apartamentos. “No começo, a maioria era de estudantes ou pessoas desquitadas”, conta o atual síndico, Affonso Oliveira. “Naquela época, você ia até a São João e encontrava o Roberto Carlos, o Jô Soares. Havia cinemas e restaurantes ótimos.”

Os últimos apartamentos foram entregues no começo da década de 1970, quando o centro começava a ser preterido pela região da avenida Paulista. Com a queda de movimento de pessoas, veio a decadência.

Embora tenha fachada única, o Copan é composto de blocos separados, nomeados com letras de A a F, com unidades de tamanhos variados.

Quando começaram a ser vendidos, em 1952, os apartamentos custavam entre 180 mil e 1.7 milhão de cruzeiros (de R$ 157 mil a R$ 1,5 milhão hoje, em valores atualizados pelo IGP-DI).

“No início, muitos compraram quitinetes no bloco B para renda —e seus inquilinos nunca sofreram triagem conveniente para evitar que aquele bloco se tornasse terra de ninguém, com profusão de prostitutas, travestis, traficantes e drogados”, analisa o arquiteto Carlos Lemos. “A má fama do bloco B estendeu-se ao edifício todo nos primeiros 20 anos do prédio.”

A reforma mais visível comandada por Oliveira é a troca de todas as pastilhas da fachada. As peças estavam caindo e havia risco de despencarem sobre os transeuntes, daí a instalação da tela azul. A estimativa é que o restauro termine em 2019.

Na última década, o Copan integrou a onda de revalorização do centro e passou a ser procurado por quem busca morar perto do trabalho, de serviços e atrações de lazer.

“O Copan é um bom exemplo de prédio de uso misto, algo estimulado no Plano Diretor atual”, diz Valter Caldana, professor de arquitetura e urbanismo do Mackenzie.

Figuras que estão há muito tempo no prédio, como a corretora Alayde Leite e os sócios José e Adelino, do Café Floresta, são cumprimentados o tempo todo nas áreas comuns. No entanto, os moradores mais novos têm poucas relações com os vizinhos.

De acordo com Affonso Oliveira, síndico do Copan há 23 anos, os moradores não são muito assíduos e “as reuniões de condomínio são um fracasso”. Na última, só 30% dos condôminos estavam representados.

Duas questões que movimentam as conversas no prédio são a falta de conexões mais potentes de internet e de um bicicletário. “O estacionamento é gerido por uma empresa e precisaria criar uma espécie de ciclovia lá, o que não dá pra fazer”, diz o síndico. Sobre a internet, Oliveira diz que as empresas de telefonia é que precisam custear o cabeamento interno.

A dificuldade para conseguir acesso à internet lembra uma situação comum nos anos 1980, quando a dificuldade era conseguir uma linha telefônica. “As pessoas se encontravam ao redor do orelhão na calçada”, lembra Edyr Sabino. Hoje, uma alternativa é pedir a senha do wi-fi ao bebericar uma cerveja no Bar da Dona Onça.

Onze mil pessoas visitam o Bar da Dona Onça por mês. Janaína Rueda abriu o espaço há oito anos, pensando em servir “coisinhas de panela de pressão”, drinques e vinhos na hora do almoço. Mas, em pouco tempo, passou a estender o horário até a noite.

Os moradores se reúnem em vários grupos no Facebook, que são usados para debater questões do prédio, como os assuntos tratados nas reuniões de condomínio.

No bloco B, os elevadores param em um nível intermediário entre os andares, de modo a atender dois pisos de uma vez em cada parada.

O bloco F foi pensado, inicialmente, para ter apartamentos de dois dormitórios, mas depois foi repartido em quitinetes para facilitar a venda.

Em 1956, Niemeyer se afastou da obra do Copan para se dedicar à construção de Brasília. A obra foi assumida pelo seu escritório paulistano.

O Copan tem cerca de 5.000 moradores, mas o prédio tem apenas 221 vagas de garagem.

Cerca de 6.000 pessoas circulam por dia pelas galerias do térreo.

Peças dos antigos elevadores e duas mil fotos históricas são alguns dos itens que estarão no Museu do Copan, um projeto do síndico Affonso Oliveira, ainda sem data para sair do papel.

Mais de 600 degraus formam cada uma das escadas em caracol na parte de trás do edifício.

Os brises, ou brise-soleil em francês, são dispostos em cada um dos andares formando linhas, a principal característica do prédio, e servem para diluir a iluminação solar.

Copan possui 46 mil metros quadrados de fachadas cobertas por pastilhas, que estão sendo trocadas. A reforma, que deve terminar em 2019, está estimada em R$ 23 milhões

Copan possui 46 mil metros quadrados de fachadas cobertas por pastilhas, que estão sendo trocadas. A reforma, que deve terminar em 2019, está estimada em R$ 23 milhões

As obras começaram em 1953, mas pararam no ano seguinte porque o BNI enfrentou problemas financeiros.