Brasileiros trocam fotos sensuais para aumentar autoestima e reduzir distâncias

Fotos de nudez do ator Stênio Garcia, 83, e de sua mulher, Marilene Saad, 47, vazaram na semana passada e geraram rebuliço nas redes sociais --só no dia do vazamento houve mais de 71 mil menções relacionadas a nudes no Twitter, segundo medição da empresa de monitoramento Scup. O número é três vezes maior que a média do mês.

Fotografar-se nu não é um comportamento restrito ao artista. Aliás, não só tirar, como também “mandar nudes” (expressão que ficou bastante popular na internet, para o ato de enviar fotos sensuais nuas ou seminuas principalmente por aplicativos de mensagens).

Segundo pesquisa on-line do Instituto Qualibest com 579 pessoas feita na semana passada, 12% dos entrevistados já compartilharam fotos ou vídeos da própria nudez na internet. O levantamento reflete a população internauta brasileira de 16 a 30 anos.

Para 42% das pessoas que mandam esse tipo de foto, os principais motivos são o pedido do parceiro ou a resposta ao recebimento de um conteúdo de nudez.

O WhatsApp é o principal aplicativo para essa troca de mensagens, escolhido por 87% das pessoas, enquanto o Snapchat aparece na segunda posição, com 25%.

A universitária Tatiana (nome fictício), 20, de São Paulo, e o namorado têm até dia para trocar nudes: toda quarta-feira. O casal mora em cidades diferentes e percebeu que sempre sentia saudade no meio da semana, então definiu a data para amenizar a espera.

“O nude é uma forma de se relacionar nesse mundo virtual e distante em que estamos. Eu me sinto mais próxima dele, ganho intimidade. Até mesmo ganho confiança, pois estou mandando algo bastante íntimo”, diz Tatiana.

No caso de Amanda, 19, mandar nudes serviu para aumentar sua autoestima. Ela sempre foi muito insegura com seu corpo, até conhecer um menino e ganhar coragem para enviar fotos para ele. “Não sabia qual ia ser a resposta, mas aquela adrenalina me fez bem. Ele me elogiou bastante, mas, mais do que a opinião dele, foi libertador para mim ver as imagens.”

Na opinião da psicanalista Marielle Kellermann, que pesquisa a relação entre psicanálise e tecnologia, existem dois motivos principais para o ato de compartilhar nudes pela internet. O primeiro está em um desejo biológico inato: o exibicionismo. “É uma característica do ser humano. Os pintores do Renascimento já faziam aulas com modelos nus”, afirma.

O segundo são as facilidades que a tecnologia proporciona, como o envio instantâneo de fotos. “Ela desperta e potencializa essa vontade intrínseca das pessoas de valorizar o corpo.”

Dani Rodrigues, pesquisadora em mídias digitais da USP, diz que, graças à internet, o nu atingiu um outro patamar. “A forma como o nu é entendido hoje é muito mais ampla do que a da Playboy nas bancas nos anos 1980. Atualmente existe o nu sob demanda”, diz Dani.

Se não fossem essas mudanças, o estudante Gustavo Godoy, 19, dificilmente teria criado um grupo no WhatsApp com mais nove amigos e amigas só para mandar imagens sensuais. “Não me pergunte de onde surgiu essa ideia, mas alguém virou e falou: ‘Vamos criar um grupo de nudes? Aí a gente disse: Vamos”, conta ele.

As fotos eram temáticas e a brincadeira durou quatro dias. Os assuntos passaram de “cowboy” até “dia do estudo”. “Meu amigo tirou uma foto deitado em cima da cama, do lado de vários livros, por exemplo.” No final, eles faziam uma votação para eleger a melhor imagem.

O MEME

Já era uma tradição em redes sociais como o Twitter postar à meia noite a mensagem “manda nudes”, de forma descontraída, como se fosse o horário em que a pornografia era permitida.

Mas a expressão ganhou contornos de memes depois que o publicitário Vinícius Curi, 27, criou o Tumblr “Manda Nudes”, em que fazia paródias com imagens conhecidas, como o logo do programa “Sessão da Tarde”, para “Manda Nudes”. Sites como Não Salvo, YouPix e BuzzFeed republicaram o contéudo.

Desde então, é difícil encontrar algum brasileiro usuário de redes sociais no ano de 2015 que nunca tenha se deparado com a expressão “manda nudes”. É o que os números mostram. Segundo o Google Trends, ferramenta do Google para analisar as buscas no site, o termo “manda nudes” começou a ganhar força em março de 2015 --exatamente o mês da criação do Tumblr.

Para o publicitário, além da brincadeira e do lado lúdico, a popularização da expressão contribuiu para criar um debate que antes não existia.

“No começo fiquei assustado, porque diziam que o meme incentivava as pessoas a mandar fotos peladas. Mas depois percebi que muita gente acabou discutindo o assunto, os perigos de enviar nudes, quais cuidados tomar”, diz Curi.

Percebi que muita gente acabou discutindo o assunto, os perigos de enviar nudes

GUIA DO NUDE

11 dicas para tirar fotos melhores e se proteger

Luz é tudo. Em geral, uma iluminação que propicie mais contrastes suaves (que esconda algumas partes e mostrem outras) são mais interessantes que luzes completamente uniformes. Você consegue isso se posicionando próximo a grandes fontes de luz, como janelas e abajures

Antes de começar a fotografar, analise o local, seja ele o seu quarto, uma cachoeira ou qualquer tipo de locação. Lembre-se, a luz é sempre mais importante

Clique menos, pense mais. As fotos mais legais serão na maioria das vezes resultado de um pequeno toque de planejamento. Movimente-se no espelho e aprenda a ver fora da câmera o que o deixa em melhor ângulo

Caso esteja fotografando outra pessoa, evite dar direções muito específicas. As pessoas não estão acostumadas a atuar e a fingir emoções. Se quiser que uma pessoa sorria, não a peça para sorrir, faça uma brincadeira ou conte uma piada

Quer fazer imagens íntimas? É bom ter sempre um pé atrás. Evite mostrar seu rosto e marcas que o identifiquem, como tatuagens ou pintas. Se você tem muito medo dos riscos, não compartilhe suas fotos via internet

O melhor a fazer é apagar seus nudes, mas, se quiser armazená-los, tome cuidado. Uma maneira eficiente é compactar os arquivos em uma pasta .zip com senha. O mesmo vale para o celular. Existem aplicativos gratuitos que permitem criptografar mensagens ou esconder imagens

Nunca mande o mesmo nude para pessoas diferentes. Caso a imagem venha a vazar, fica praticamente impossível de saber quem foi o responsável

Se suas fotos vazarem, procure ajuda o mais rápido possível. Quanto mais tempo demorar, mais a foto pode se disseminar, e mais difícil vai ser rastrear os responsáveis. ONGs como a Safernet oferecem auxílio psicológico e dão orientações na esfera jurídica

Em alguns estados, existem delegacias especializadas em crimes cibernéticos, mas você pode fazer a denúncia em qualquer delegacia. Tire “prints” das imagens e registre-as em um cartório de sua cidade, assim a validade do documento não poderá contestada em um futuro processo judicial