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Texto por: Júlia Barbon e Mateus Luiz de Souza, de São Paulo 05/10

Menos favoráveis aos nudes, mulheres sofrem mais com vazamentos

Mandar nudes pode até ser encarado como algo lúdico, que apimenta relacionamentos e gera memes, mas também representa um problema. E crescente.

Se alguém recebe uma de homem, fala ‘nossa, que merda’. Se é de uma menina, a foto se espalha

A ONG SaferNet, que oferece auxílio psicológico a vítimas de vazamento de fotos íntimas, atendeu a 224 casos desse tipo no ano passado, um crescimento de 120% com relação a 2013 (foram 101 ocorrências). Mas o número não reflete o número de vítimas do chamado pornô de vingança ou “revenge porn”, porque muitas vezes as vítimas têm medo de denunciar ou pedir ajuda e ser ainda mais expostas.

Isabela*, 15, é uma das vítimas da exposição indesejada. Colegas da escola de menina criaram um grupo anônimo no WhatsApp com o objetivo de divulgar fotos suas nua para todo o ensino médio. As imagens não mostravam seu rosto, mas estavam vinculadas ao seu nome.

“Eu fiquei muito mal emocionalmente, me sentindo muito culpada”, diz a garota, cujo maior medo é que as imagens cheguem até seus pais. “Eu não tinha conhecimento de que isso poderia me prejudicar para o resto da vida.”

Essa falta de percepção das possíveis consequências devastadoras de mandar fotos íntimas não é uma característica somente dos adolescentes, segundo a psicanalista Marielle Kellermann.

“A comunicação virtual fica em um espaço meio obscuro, sem um limite definido entre o que é o mundo interno, das fantasias, e o mundo externo, da sociedade.”

O caso do vazamento das imagens de Stênio Garcia e de sua mulher, na semana passada, mostram ainda um outro lado perverso da história. As consequências para homens e mulheres perante o problema são bastante distintas.

Enquanto o ator global levou a questão de forma bem humorada, dizendo que não via problema em ter sido exposto com a própria mulher em uma situação íntima, e que não gostaria de prestar queixa, ela classificou o episódio como “crime bárbaro” e fez questão de ir à delegacia.

Tanto que 81% dos casos atendidos pela SaferNet são de mulheres. E a maior parte dos outros 19% são de homens que marcaram encontros on-lines com outros homens e passaram a ser ameaçados de terem sua orientação sexual revelada.

“Trata-se de uma questão de gênero. Geralmente os homens heterossexuais não procuram ajuda e não sofrem grande consequência. As mulheres sofrem um impacto social grande”, afirma a coordenadora psicossocial da SaferNet, Juliana Cunha.

Uma pesquisa do Instituto Qualibest feita na semana passada com 579 pessoas corrobora essa diferença: 41% das mulheres são totalmente contrárias ao envio de nudes, pois podem ter sua vida arruinada. Entre os homens, esse número é bem menor, de apenas 22%.

O estudante Gustavo Godoy, que montou um grupo de WhatsApp com os amigos para trocar imagens íntimas, diz que não tem medo de suas fotos vazarem pele fato de ser homem: “Se alguém recebe uma de homem, fala ‘nossa, que merda’. Se é de uma menina, a foto se espalha.”

Gustavo Godoy, que montou grupo de WhatsApp com os amigos para trocar imagens íntimas - Fabio Braga/Folhapress

GUIA DO NUDE

11 dicas para tirar fotos melhores e se proteger

Luz é tudo. Em geral, uma iluminação que propicie mais contrastes suaves (que esconda algumas partes e mostrem outras) são mais interessantes que luzes completamente uniformes. Você consegue isso se posicionando próximo a grandes fontes de luz, como janelas e abajures

Antes de começar a fotografar, analise o local, seja ele o seu quarto, uma cachoeira ou qualquer tipo de locação. Lembre-se, a luz é sempre mais importante

Clique menos, pense mais. As fotos mais legais serão na maioria das vezes resultado de um pequeno toque de planejamento. Movimente-se no espelho e aprenda a ver fora da câmera o que o deixa em melhor ângulo

Caso esteja fotografando outra pessoa, evite dar direções muito específicas. As pessoas não estão acostumadas a atuar e a fingir emoções. Se quiser que uma pessoa sorria, não a peça para sorrir, faça uma brincadeira ou conte uma piada

Quer fazer imagens íntimas? É bom ter sempre um pé atrás. Evite mostrar seu rosto e marcas que o identifiquem, como tatuagens ou pintas. Se você tem muito medo dos riscos, não compartilhe suas fotos via internet

O melhor a fazer é apagar seus nudes, mas, se quiser armazená-los, tome cuidado. Uma maneira eficiente é compactar os arquivos em uma pasta .zip com senha. O mesmo vale para o celular. Existem aplicativos gratuitos que permitem criptografar mensagens ou esconder imagens

Nunca mande o mesmo nude para pessoas diferentes. Caso a imagem venha a vazar, fica praticamente impossível de saber quem foi o responsável

Se suas fotos vazarem, procure ajuda o mais rápido possível. Quanto mais tempo demorar, mais a foto pode se disseminar, e mais difícil vai ser rastrear os responsáveis. ONGs como a Safernet oferecem auxílio psicológico e dão orientações na esfera jurídica

Em alguns estados, existem delegacias especializadas em crimes cibernéticos, mas você pode fazer a denúncia em qualquer delegacia. Tire “prints” das imagens e registre-as em um cartório de sua cidade, assim a validade do documento não poderá contestada em um futuro processo judicial