Jesus ganha de lavada na internet
Na internet, Jesus é pop. Bem mais que os Beatles, pelo menos. Se, há 50 anos, John Lennon disse que o quarteto de Liverpool "era mais popular que Jesus", caso o cantor fosse vivo hoje não poderia dizer o mesmo. Ao menos é o que mostram dados de monitoramento de redes sociais.
No Facebook, o número de curtidas nas seis maiores páginas de cada um é semelhante (43,5 milhões para Jesus, contra 42,4 milhões para os Beatles), mas o engajamento com o nazareno é bem maior: 9 milhões de pessoas falando sobre Cristo, contra somente 386 mil da banda. O número de tuítes é igualmente favorável: 1,4 milhões citando Jesus em um período de trinta dias (21/01 a 22/02), ante 41 mil citando Beatles, para o mesmo período.
É simples o motivo para essa “lavada”, segundo o pastor Darcy Sborowski, da Igreja Batista de Vila Mariana: as boas ações de Jesus em Terra. “O que Jesus fez pelo homem, em termos de amor, nunca existiu paralelo. Por isso ele continua tão lembrado”.
Sborowski não tem ressentimento com John Lennon –tanto que é fã da banda e adora a música “Yellow Submarine”, a sua favorita do grupo–, mas entende que o cantor fez uma leitura errada do momento histórico. “Era preciso de um estudo estatístico para poder confirmar quem era mais popular. A banda era conhecida no mundo ocidental. Já Jesus é no mundo inteiro. Até nos céus e no inferno”, diz.
Roberto Francisco Daniel, antigo padre Beto e que foi excomungado em 2014, toca músicas do quarteto fantástico em reuniões que ainda hoje promove com seguidores. Fã de Beatles e de Jesus, ele acredita que a popularidade de Cristo encontrada nas redes sociais não se reflete na sociedade. “Vivemos num mundo violento, corrupto. As palavras de Cristo não estão sendo seguidas”, diz.
Apesar da “derrota”, Leandro Donner, professor do curso de extensão “Beatles: história, arte e legado”, na PUC-Rio, e beatlemaníaco, vê um empate técnico na popularidade. “Somente o fato dessa frase estar em discussão até hoje mostra o alcance da banda. E tem que se pensar na carreira: os Beatles tem 56 anos de estrada; Jesus, mais de dois mil. Meu sonho é que daqui dois mil anos ainda falem de Beatles”.