Viagem ao extremo oriente do Brasil

Território nacional mais próximo da África, arquipélago de São Pedro e São Paulo expõe particularidades que surpreendem cientistas e marinheiros

Rochedos do arquipélago, onde já foram registrados mais de 350 tremores desde 2011

geologia

Ilhas estão entre os locais do Brasil com maior frequência de terremotos

A 1.100 km de Natal (RN), o arquipélago de São Pedro e São Paulo está entre os pontos habitados do território brasileiro com maior frequência de terremotos.

O professor Aderson Nascimento, coordenador do Laboratório Sismológico, conhecido como LabSis, da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), chama a atenção ainda para a situação de cidades como Caruaru (PE), Irauçuba (CE) e João Câmara (RN), todas no Nordeste.

A estação sismográfica do Labsis foi instalada no arquipélago em 2011. Desde então, já foram registrados mais de 350 tremores, que vão de 2 a 5 na escala Richter –a escala vai de zero a dez.

De acordo com Nascimento, a média é de três a quatro ocorrências por semana. Mas já foram registrados dez terremotos de baixo impacto em um só dia. Durante a visita da reportagem a São Pedro e São Paulo, entre 23 e 25 de março, tremores não foram percebidos.

É rara a incidência no local de abalos sísmicos de intensidade entre moderada e forte, o que, evidentemente, não significa que não ocorram. No início de junho de 2006, uma série de tremores –o mais intenso atingiu a magnitude de 6 pontos– somada à ressaca do mar deu origem a ondas de até 5 m de altura.

O fenômeno obrigou os pesquisadores a se refugiar no farol, o ponto mais alto de São Pedro e São Paulo, e levou à destruição de parte da estrutura da estação científica, reconstruída nos dias seguintes.

De acordo com estudos recentes de geólogos, a ocorrência de um tsunami no local é muito improvável.

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Falha transformante

Por que, afinal, os tremores são tão frequentes no arquipélago?

A resposta está, sobretudo, na localização dos rochedos. Pense numa enorme fenda, que rasga o fundo do oceano. Assim é a chamada falha transformante, situada entre duas placas tectônicas.

O arquipélago fica justamente sobre a chamada Falha Transformante de São Paulo, uma das maiores do planeta, com cerca de 630 km de extensão e 120 km de largura. Ela separa as placas africana, ao norte, e a sul-americana, ao sul.

O que se vê na superfície é apenas o cume de uma estrutura de cerca de 4 km de profundidade.

Conforme explica o coordenador do LabSis, a falha transformante está sujeita a constantes movimentos de compressão e deslizamento das placas tectônicas. Como sua base está sobre a falha, o arquipélago sofre os efeitos dessa dinâmica.

São Pedro e São Paulo é, aliás, um prato cheio para os geólogos. Nenhuma outra ilha no Atlântico tem a mesma formação rochosa.

As demais são vulcânicas, o que implica serem formadas por magma e terem crescido sobre as placas tectônicas, e não entre elas, como ocorre com São Pedro e São Paulo.

O arquipélago é formado por rochas ultramáficas, que possuem alto teor de ferro e magnésio.

As pesquisas geológicas, contudo, ainda estão em fase preliminar. "Como o arquipélago está sob compressão, a tendência é que esteja subindo alguns milímetros por ano. Mas ainda não temos detalhes da movimentação dessas rochas", afirma Nascimento.

"Há muito por estudar", diz o professor da UFRN. A frase dele se refere à geologia nas dez ilhas que formam São Pedro e São Paulo. Mas as mesmas palavras caberiam para áreas como biologia, oceanografia, pesca e até farmacologia.

Descoberto há 506 anos, o pequeno arquipélago ainda guarda um universo de possibilidades para a ciência.

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