Celma Castro | Histórias de vítimas do novo coronavírus - Equilíbrio e saúde - Folha de S.Paulo
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Celma Castro

Grávida com coronavírus dá à luz sedada e morre sem conhecer a filha

foto de Celma Castro

Celma Castro, 39

faleceu em 7.jun.2020

"Obrigada, Senhor, por mais uma bênção em minha vida. Vou ser mãe de menina." A comemoração, publicada no dia 17 de abril na página do Facebook de Celma Castro, 39, expressava sua alegria com a chegada de mais um filho. O primeiro havia nascido há pouco mais de um ano, e a segunda viria para realizar seu sonho de ter um casal. A chegada da Covid-19, porém, frustrou os planos e enterrou o sonho da dona de casa. Celma deu à luz sedada e não chegou a conhecer a filha. "A Celma era simples, sempre agradecida e com um sorriso que não tirava do rosto. Ela estava em êxtase com a chegada da menina", lembra a pedagoga Rosi Cruz, 37, cunhada e escolhida para ser a madrinha. A contaminação foi uma surpresa para a família. Celma estava isolada em Venda Nova do Imigrante, cidade de 24 mil habitantes no Espírito Santo. Em 18 de maio, data em que fez o teste e soube que estava infectada, havia apenas 39 casos confirmados na cidade, segundo a plataforma de dados do governo capixaba. Três dias depois, Celma foi levada para o hospital e entubada. Marcela nasceu de cesariana no dia seguinte, de sete meses. Já passou por três testes para verificação do contágio: o primeiro deu positivo, o segundo negativo e o terceiro ainda não tem resultado. A bebê foi encaminhada para a UTI, e a mãe morreu em 7 de junho, sem recuperar a consciência. Com a condescendência do agente funerário, a família conseguiu que o velório durasse 15 minutos, em vez de 10, o suficiente para fazer uma oração com o caixão fechado. "A Covid é cruel", diz a cunhada Rosi. "Além de tudo, ela nos tira a possibilidade de se despedir adequadamente de quem a gente ama. É muito triste, até desumano, perder uma pessoa dessa forma." Na entrevista por telefone, Rosi se desculpou pela tosse constante. Também infectada, está isolada há 20 dias com sintomas que não cessam. "As pessoas acham que é brincadeira. Não é só uma gripezinha. Covid mata e fica só a saudade."