A história viva da comunidade indígena tekona ocoy, aldeia da etnia avá guarani que fica em São Miguel do Iguaçu (PR), era carregada pelo seu patriarca e rezador Gregório Venega. Com 105 anos, ele era parte do grupo que, em 1982, teve de abandonar a aldeia de Jacutinga, na vizinha Foz do Iguaçu, em razão da formação do lago da usina de Itaipu. "Era a pessoa mais importante da nossa aldeia", resume o cacique Celso Ocoy. O patriarca morreu na sexta (24), depois de uma internação que durou 17 dias. A morte da primeira vítima fatal da Covid-19 em índios do Paraná ocorre após intensa luta para salvaguardar a aldeia da pandemia. Há cerca de um mês, após um surto do novo coronavírus que contaminou ao menos 77 moradores, os dois acessos à aldeia foram fechados e a comunidade passou a controlar a entrada da aldeia. Atualmente, apenas um morador continua isolado. Segundo o cacique, o vírus deve ter sido trazido por alguns dos 43 habitantes da aldeia que trabalham em um frigorífico da cidade. Atualmente, vivem na comunidade 210 famílias, que somam quase 900 pessoas. O surto de contaminação e a iniciativa de fechar os acessos ajudaram a abrir os olhos de autoridades, e todos foram afastados do trabalho. O cacique conta que ao menos um pedido da aldeia pôde ser atendido: por algumas horas e seguindo medidas de controle da pandemia, a comunidade conseguiu cumprir seu ritual de orações para se despedir do patriarca. (Katna Baran)