Carlos Antônio do Rego Albuquerque | Histórias de vítimas do novo coronavírus - Equilíbrio e saúde - Folha de S.Paulo
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Carlos Antônio do Rego Albuquerque

Militante apaixonado por futebol e política morreu no dia dos namorados

foto de Carlos Antônio do Rego Albuquerque

Carlos Antônio do Rego Albuquerque, 48

servidor público

faleceu em 12.jun.2020

Desde a adolescência, Carlos Antônio do Rego Albuquerque, o Bode, era presença certa nos comícios e passeatas que o PT organizava em Brasiléia, interior do Acre, distante 240 km de Rio Branco, cidade onde passou a maior parte da vida. Apaixonado por política, animava as reuniões, distribuía panfletos, vestia a camisa do partido. Ao completar 18 anos, se filiou e virou, oficialmente, um militante.

O apelido de Bode, ganhou na infância, por imitar com frequência o som que o animal faz. No PT, que governou o Acre de 1999 a 2018, construiu amizades com simples militantes até as figuras mais influentes do partido, e tinha Lula como seu grande ídolo.

A outra paixão foi o Flamengo. Em 2009, juntou por três meses o salário de servidor da prefeitura de Brasiléia para ir ao Maracanã, no Rio de Janeiro, assistir a um jogo do time do coração. Apesar de toda dedicação ao PT, nunca foi prestigiado como desejava. Ocupou apenas cargos de pouca relevância: subcoordenador de um ginásio de esporte foi um deles.

Em 2012, incentivado por amigos, decidiu se candidatar a vereador em sua cidade natal. Sem recursos para a campanha, obteve apenas 78 votos e não se elegeu. O fracasso nas urnas o decepcionou a ponto de sumir dos diretórios por quase dois anos. Em 2014, voltou à militância. Animou novamente os comícios, votou e pediu votos ajudando na reeleição do então governador Tião Viana.

Bode teve dois relacionamentos estáveis. O mais longo durou cinco anos.

Teve quatro filhos. Embora nenhum morasse com ele, se relacionava com todos. O caçula herdou o nome do pai.

Em 2018, quando o PT perdeu a eleição para a oposição no Acre, ele se recolheu politicamente e voltou a dar expediente na prefeitura.

Foi diagnosticado com a Covid-19 em 4 de junho, mesma data em que foi internado no hospital onde já estava com o mesmo diagnóstico o irmão Raimundo. Foi o último encontro entre eles. "Ele apertou minha mão e disse que iríamos sair dessa juntos", lembra Raimundo.

Dois dias depois, Bode foi transferido para a UTI de um hospital em Rio Branco. Estava entubado, em coma induzido. No dia 12 de junho, morreu, aos 48 anos.

"Estou arrasada", disse a amiga de infância e prefeita de Brasiléia, Fernanda Hassen. O diretório estadual do PT também emitiu nota de pesar. Em uma rede social, o ex-governador Jorge Viana escreveu: "Foi um fiel militante. Me ajudou em todas as lutas políticas".

Apesar do pedido da família, que desejava sepultá-lo em Brasiléia, o cabo eleitoral que passou a maior parte da vida cercado de gente foi enterrado na capital, sem velório e sem despedidas. (Jairo Barbosa)