Odgar Cardoso | Histórias de vítimas do novo coronavírus - Equilíbrio e saúde - Folha de S.Paulo
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Odgar Cardoso

Formou carreira e família na Guarda Municipal de Curitiba

foto de Odgar Cardoso

Odgar Cardoso, 60

superintendente da Secretaria Municipal de Defesa Social

faleceu em 5.ago.2020

A história de 31 anos na Guarda Municipal de Curitiba rendeu a Odgar Nunes Cardoso homenagens de todos os cantos. Além da família, colegas e autoridades de diversos patamares testemunharam sua carreira na farda, que lhe serviu por mais tempo que qualquer outro traje.

"Tive a honra de contá-lo entre meus grandes amigos", escreveu o prefeito da capital, Rafael Greca sobre o funcionário público. A prefeitura decretou luto oficial de três dias pelo falecimento de Cardoso, que morreu no último dia 5 de agosto, de Covid-19, aos 60 anos. Foi a primeira vítima da doença na cidade a receber a homenagem institucional individualmente. Da corporação, ganhou ainda um cortejo final com sirenes ligadas nas viaturas.

Cardoso foi um dos 110 aprovados no concurso público para compor o primeiro quadro da guarda de Curitiba, em 1988. Cresceu na carreira ajudando a moldar a instituição recém-formada. Chegou a superintendente e inspetor e comandou o órgão por duas gestões.

A trajetória profissional se entrelaçou à vida pessoal. Ainda no primeiro ano de carreira, conheceu aquela que seria sua futura esposa e mãe dos seus filhos, Silvia Zoraski, hoje supervisora da Guarda Municipal.

Mesmo no alto escalão, o comandante preferia atuar na ponta. "Gostava de estar na rua, andando com os guardas, dia e noite, era um cara de fácil acesso, que resolvia as pendências ali, na hora", narra o colega de primeira turma, Carlos Celso dos Santos Junior, atual diretor do órgão.

Em uma das primeiras ocorrências que atendeu ao lado de Cardoso, um caso de invasão de terras que acabou com a morte de outro colega em combate, Santos percebeu que ganhara, além de um emprego, um amigo para toda vida. "Foi guerreiro e muito leal", recorda-se.

Dentro do funcionalismo público, buscou mais conhecimento: formou-se em Geografia e cursou pós-graduação na Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra.

Como se aposentou no cargo de diretor, Cardoso foi alçado a Comandante Emérito da Guarda Municipal. Mas, a carreira na segurança pública não acabou. Há cerca de um ano, era superintendente da Secretaria Municipal de Defesa Social.

Apesar da história de vida atrelada à capital paranaense, Odgar nasceu em Júlio de Castilhos (RS). Era um típico "gaúcho genioso", como descreve Celso. Da terra natal, mantinha alguns costumes, como o chimarrão e o churrasco em família.

Sem comorbidades, o superintendente continuou trabalhando após a chegada da pandemia em Curitiba. Celso acredita que, no trabalho, o colega acabou se contaminando com o novo coronavírus. Foram 29 dias de internação antes de morrer pela Covid-19.

Deixou a mãe, Luiza, de 90 anos, a esposa Silvia, e dois filhos, Lucas e Helena. (Katna Baran)