Música muito popular brasileira

Quem merece o selo de música popular brasileira? <b>Folha</b> analisa 134 bilhões de execuções no YouTube para descobrir o que os brasileiros ouvem e como, quando, onde e por que

Criança

Galinha Pintadinha tem popularidade quase homogênea, com leve destaque no Nordeste

A receita da "Galinha Pintadinha" parece óbvia hoje. Música que gruda, cores hipnóticas, bichos fofos e um celular ou tablet na mão de uma criança enquanto o adulto responsável por ela precisa ou prefere fazer outra coisa.

Entre 2006 e 2007, no entanto, o modelo ainda não era tão evidente. E, de like em like, a "Galinha" não apenas encheu o próprio papo como também ajudou a povoar o YouTube com bebês e crianças, importantes vetores de anunciantes. Deu origem, ainda, a uma verdadeira corrida do ouro em busca da monetização desse universo.

Em 11 anos, a penosa amealhou 8,8 milhões de inscritos, o que a deixa entre os canais mais populares do serviço. Sua obra mais repetida, "Pintinho Amarelinho", foi vista 500 milhões de vezes. A série extrapolou a plataforma on-line para se lançar em mídias físicas, brinquedos e uma enormidade de produtos licenciados, de colchão inflável a papel higiênico.

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Porém nem só de negligência virtual vivem os sucessos do YouTube. A "Galinha Pintadinha" soube desenterrar e renovar canções e rimas que remetem ao passado de pais e avós. O repertório também dominou festinhas infantis e comemorações escolares.

Além do apelo emocional, houve um certo alívio para os genitores no fato de a distração infantil não mais depender de criaturas precocemente desbotadas como o dinossauro Barney, os Bananas de Pijamas ou os Teletubbies, hits dos DVDs no fim dos anos 1990 e início dos anos 2000.

Não que a repetição do "Parabéns da Galinha Pintadinha" não seja enlouquecedora. Mas novas gerações conheceriam o fracasso do casamento entre a galinha-pintadinha e o galo-carijó e decorariam as mentiras da barata que se gaba por cretinices como ter um anel de formatura. Fora isso, houve a reabilitação de "Atirei o Pau no Gato" —ainda que acompanhada dos versos prescritivos sobre não atirar o pau no gato, "porque isso não se faz".

Foi assim que a "Galinha" nutriu a primeira geração de crianças cujo objetivo principal na vida é ver (e ser) youtubers. Se a galinhada desandou ou não, vamos saber em mais alguns anos.