Sebastião Salgado na Amazônia - Alto do Xingu

<b>Xingu </b> População indígena no norte do Mato Grosso já foi dizimada por epidemias, a primeira delas no século 16; sanitarista que trabalha na região prevê 'situação explosiva' e diz que cidades vizinhas já têm infectados por coronavírus

Aldeias fazem 'sal de índio' que não aumenta a pressão

Aldeias fazem ‘sal de índio’ que não aumenta a pressão

Ao servir um prato de peixe ao convidado, o cacique Afukaká, líder kuikuro, pergunta: "Você não quer experimentar o 'sal de índio'?", e passa o pequeno prato cheio de um pó claro, mas não branco, mais parecido com uma farinha de cor acinzentada.

"Ele é saudável, não dá pressão alta", explica o cacique.

O sal a que ele se refere é um produto tradicional da cultura Xinguana, feito à base de folhas de uma planta. Diferentemente do sal industrial, de sódio, o "sal de índio" é composto de potássio, que não tem efeito deletério para a pressão sanguínea.

O sal industrial, composto de cloreto de sódio, é a maior causa de hipertensão na população brasileira.

"Existe uma parcela de hipertensão de origem familiar, mas o brasileiro consome sal em excesso: em média 12 gramas por dia, enquanto o recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) é cinco gramas diários. Além disso, no Brasil, é mais difícil reduzir esse excesso porque 75% do consumo vem de produtos industrializados", explica Dante Fanganiello Senra, que é médico cardiologista.

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Todas as etnias xinguanas produzem o seu sal vegetal, mas os índios awetis têm o mais desejado; o condimento é uma de suas contribuições para a troca de produtos, elemento organizador do sistema cultural xinguano.

O sal vegetal é feito a partir do processamento das folhas do aguapé, uma espécie aquática que prolifera na superfície das lagoas locais. A planta boia, com as folhas visíveis, e a raiz, submersa.

A produção do condimento é uma atividade feminina e leva vários dias. As mulheres entram na lagoa e tiram as folhas do aguapé que estão fora da água, sem comprometer as raízes. Isso ocorre apenas em algumas épocas do ano, para que as plantas se regenerem.

As folhas coletadas são postas ao sol para secar, em uma superfície que fica na margem da lagoa. Depois de alguns dias, já secas, elas são queimadas em uma fogueira. As cinzas resultantes são misturadas com água e levadas ao fogo em uma grande panela. Quando a água está praticamente seca, a panela é tirada do fogo para terminar a evaporação.

O resultado é um pó branco, usado para salgar o peixe já pronto, na hora de comer (não é adicionado ao processo de cozimento do alimento).

Além dos awetis, os produtores mais reconhecidos são os waujas e os mehinakos. O sal é trocado ritualmente durante a festa do Kuarup.

Produção de mel, óleo e chocolates gera renda para os índios

Há vários anos surgiu na prateleira de suprimentos gourmet de mercados em São Paulo uma nova iguaria: o mel do Xingu. Orgânico, produzido com mel de abelhas da selva local, ele é mais caro do que os concorrentes, garantindo receita para comunidades da terra indígena.

O mel faz parte de uma série de projetos de geração de renda com produtos feitos com a cultura tradicional xinguana, e dos quais uma parte marginal é revertida para o comércio nas grandes cidades.

O sucesso do mel gerou outros parentes, produzidos em parceria com o ISA (Instituto Socioambiental) e apoio da União Europeia e do Instituto Atá (do chef Alex Atala). Hoje, o índios do Xingu já têm nesse mercado vários itens sendo comercializados. Da vizinha Terra do Meio, por exemplo, saem produtos de babaçu: farinha, castanha e óleo.

Já os índios kisêdjês produzem óleo e chocolates feitos a partir do pequi, fruta típica do Cerrado; o óleo é usado também por indústrias de cosméticos, do Brasil e dos EUA.

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