Desmatamento ilegal acha novos métodos e alcança recordes
Desmatamento ilegal acha novos métodos e alcança recordes
19.dez.2020 - 1h
No momento em que você lê este texto, quando a Amazônia está em período de chuvas, grileiros e ocupantes ilegais estão cortando áreas de floresta para escapar ao monitoramento dos satélites oficiais.
Antes, o desmatamento parava na época chuvosa e voltava na seca. Recentemente, esse ciclo se alterou: a invasão de terras públicas ocorre no final do ano, quando as nuvens cobrem a região e impedem o monitoramento por satélites. Escondidos sob as nuvens, grileiros de terras públicas cortam vastas áreas de florestas e as deixam ali até pôr fogo no período de secas que começa em março. A vegetação cortada há meses servirá em 2021 de combustível para grandes incêndios travestidos de acidentais.
O ciclo, que constatei ao final de 2018 na região de Lábrea (sul do Amazonas), é apontado pelo climatologista Carlos Nobre como uma nova estratégia da destruição de áreas de ocupação recente. Esse corte fora de época ajuda a explicar o aumento do desmatamento nos últimos dois anos, batendo recordes seguidos.
Dados mais recentes do Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite), do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), mostram que, entre agosto do ano passado e julho de 2020, foram derrubados 11 mil km² da floresta –9,5% a mais que 2019, até então o maior índice da década.
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O bioma, que ocupa metade do território brasileiro (49,29%), já perdeu 17% de seu território desde os anos 1970. O desmatamento na floresta vem aumentando desde o governo Dilma Rousseff (2011-2016), após uma redução nos anos Lula (2003-2010). Hoje, a degradação se aproxima do "ponto de não retorno", calculado em torno de 25% da área original, diz Nobre.
Ao território já perdido é preciso acrescentar cerca de 10% de áreas degradadas que antigamente o ecossistema dava conta de regenerar, mas que, nos últimos anos, avança para a destruição completa. Por isso, a falência do sistema amazônico pode estar bem mais próxima do que previam estudiosos anos atrás.
Os mapas abaixo, produzidos pelo ISA (Instituto Socioambiental), destacam a estimativa oficial de desmatamento em 2020.
O 1º mostra a cobertura vegetal da Amazônia Legal considerando as classes de floresta, água, hidrografia e não floresta (em preto) existentes até 2019. É um mapa de referência que contém a estimativa do desmatamento de 2020 considerada pelo Inpe (em amarelo) apontando onde está ocorrendo este desmatamento. Essa estimativa é parcial, pois considera somente uma avaliação de 102 imagens produzidas pelo satélite Landsat (menos da metade de um total de 229 produzidas pelo sistema).
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O mapa 2 inclui as Terras Indígenas (TIs) e as Unidades de Conservação (UCs) e apresenta a estimativa de destruição em 2020 (em amarelo) sobre essas regiões. O levantamento mostra como o desmatamento ocorre com maior impacto fora das áreas protegidas, ainda que os controles oficiais dessas áreas tenham sido desmantelados pelo governo federal nos últimos anos.
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Carlos Nobre destaca o fato de que 90% do desmatamento é ilegal, com 40% ocorrendo em terras públicas invadidas –em territórios que pertencem à União e nas áreas de proteção como Terras Indígenas e Unidades de Conservação; outra parte se dá em propriedades privadas cujos donos queimam as áreas de proteção permanente previstas em lei.