TERRA DE GIGANTES

Em integração com o entorno e com galerias na vertical, um Sesc no coração de SP e a torre de vidro do Instituto Moreira Salles, na Paulista, são os novos centros culturais da cidade

Piscina do Sesc, no topo do prédio

SESC 24 de Maio

Paulo Mendes da Rocha fez do Sesc um mirante do fluxo do centro de SP

"Isso tudo já estava aqui", diz Paulo Mendes da Rocha, num dos andares mais altos do novo Sesc 24 de Maio. "Era só dar uma arrumadinha."

No caso, derrubar uma série de estruturas antigas, escavar o subsolo para construir um teatro, fincar quatro enormes pilares para sustentar uma piscina na cobertura, criar uma rede de rampas em zigue-zague para a circulação e depois selar tudo com uma pele de vidro.

Quem olha agora para o novíssimo centro cultural no coração de São Paulo não reconhece mais o prédio abandonado que estava ali há quase 20 anos e onde antes funcionou a antiga loja de departamentos Mesbla.

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Mas a metamorfose radical levou tempo. Depois de arrematar o prédio num leilão, em 2001, o Sesc escalou Mendes da Rocha, vencedor do Pritzker, o maior prêmio mundial da arquitetura, para adaptar os espaços e criar uma sucessão de galerias de arte, salas de aula e ginástica, biblioteca, café e restaurante. É como se replicasse toda a força das ruas que se desenrolam lá fora numa pilha de 13 andares.

Oito anos depois, as obras, que consumiram R$ 120 milhões, começaram a sair do papel e acabaram levando mais oito anos para chegar à forma final. Atrasos com empreiteiras que se viram na mira da operação Lava Jato e dificuldades na escavação do subsolo e retirada de entulho empurraram para a frente a conclusão dos trabalhos.

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Mas também permitiram um conhecimento profundo do espaço e dos arredores. Mendes da Rocha, que mantém seu escritório perto dali, no Instituto de Arquitetos do Brasil, e desenhou a marquise da praça do Patriarca do outro lado do viaduto do Chá, fez do Sesc 24 de Maio uma espécie de mirante estratégico dos fluxos intensos da região.

Nesse sentido, o arquiteto, que trabalhou ao lado de Marta Moreira, da firma MMBB, tentou levar para dentro de sua torre de concreto a sensação de flanar pelo centro –o Theatro Municipal e outros marcos da arquitetura paulistana, como os edifícios Copan e Itália, estão a poucos metros dali e podem ser vistos através da fachada de vidro.

O térreo, aliás, é aberto nas laterais e se transforma num atalho entre as ruas 24 de Maio e Dom José de Barros, que se cruzam ali. É como se levasse para o lado de dentro uma extensão da calçada num dos pontos mais fervilhantes da metrópole.

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Mendes da Rocha também deslocou o maquinário e outras estruturas de apoio do prédio para uma torre de 20 andares ao lado, mantendo a fluidez entre as salas e galerias da torre principal.

Essa sensação de movimento desimpedido ainda continha rampa acima. Quem sobe rumo à cobertura vai avistando amplos espaços abertos, além de um terraço no meio do caminho, que deixa ver o vaivém dos corredores e escadas das galerias comerciais ao redor.

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