Conheça 200 importantes livros para entender o Brasil, um levantamento com obras indicadas por 169 intelectuais da língua portuguesa
Dodô Azevedo
Jornalista, escritor e blogueiro da Folha
As indicações de Dodô Azevedo
Olhos d’Água
Conceição Evaristo
Obra curta de contos curtos de frases curtas. Em cada frase, um continente. A literatura de Conceição é feita de frases doces de impactos fulminantes. Demora-se horas para se recuperar de um parágrafo. Dias para se recuperar de um conto. No fim, a experiência de leitura de 'Olhos d'Água' e suas poucas páginas, demora tanto tempo quanto percorrer 'Os Sertôes' de Euclides da Cunha. O impacto no leitor se dá porque é revelado ali um Brasil que negou-se principalmente em sua literatura. O Brasil da mulher preta protagonista observadora do mundo. Conceição Evaristo só ganhou notoriedade no século 21. Mais do que sinal de progresso, esse fato é um retrato do retrocesso que permeia a historia de nossa literatura, em quase nada de fato intependente.
Ir para página do livro chevron_rightPanAmérica
José Agrippino de Paula
Famoso por ser o protagonista da canção 'Sampa', de Caetano Veloso, cantado em verso e prosa 'Panamérica de Áfricas Utópicas'. 'PanAmérica' é o primeiro grito afrofuturista da cultura brasileira. Agripino usa, em sua literatura, seus saberes de candomblé, seu talento para a poesia, e uma potência paulistana, concreta, pop, urbana. Um delírio épico, 'Ilíada como se fosse cantada por Max Cavalera', 'PanAmérica' conta a história de um um país sul-americano ficctício em constante revolução contra forças conservadoras. Os protagonistas são figuras pop como Marylin Monroe e Burt Lancaster. E Oxóssi e Ogun. 'PanAmérica' é praticamente um livro-objeto amuleto que o Brasil se esqueceu. O que explica a má sorte da qual não não conseguimos, como nação, nos livrar.
Ir para página do livro chevron_rightIndicações fora da lista
Filosofias africanas
Nei Lopes; Luis Antonio Simas
As ideias de Platão, Aristóteles e Descartes são ensinadas no ensino médio das escolas brasileiras. Mas nada de filosofia africana que, por ser mais antiga que a grega e a europeia, serviu de base para as mesmas. Entrar em contato com a filosofia Iorubá e Bantô, os pensamentos Ashanti e Kemético, tem-se contato com a filosofia que inspirou os filósofos ocidentais. A filosofia africana, no entanto, não é novidade para a população brasileira iletrada, em sua maioria descendente de escravizados. O que aqui se chama de filosofia popular, por ser filosofia africana, é mãe da filosofia clássica. Há uma filosofia brasileira e ela está fora da academia, e em cada esquina. Os professores Nel Lopes e Luis Antônio Simas explicam de forma didática neste que é mais um livro que marca a virada na literatura brasileira na direção neste século 21, uma literatura decolonizada.