Descrição de chapéu Independência, 200

200 anos, 200 livros

Conheça 200 importantes livros para entender o Brasil, um levantamento com obras indicadas por 169 intelectuais da língua portuguesa

voltar para lista

Eliana Alves Cruz

Romancista, autora de livros como "Água de Barrela" e "Solitária"

As indicações de Eliana Alves Cruz

O diário da escritora que retratou pela primeira vez a vida em uma favela com uma visão de dentro para fora. É uma obra importante não apenas para o Brasil, mas para o mundo. Como uma espécie de versão nacional da fábula 'A Roupa Nova do Rei', Carolina expõe sem enfeites a face cruel de um país, que convive pacificamente com a exclusão e com o déficit de cidadania de parcela enorme de seu povo. Apesar da alta dose de realidade, a obra apresenta muita poesia e capacidade de fabulação. 'Quarto de Despejo' deveria ser leitura obrigatória em todas as escolas do país.

Ir para página do livro chevron_right
25º

O premiado livro de Conceição Evaristo parece continuar algo começado em 'Quarto de Despejo'. Os 15 contos trazem personagens diversos da população negra brasileira urbana, em histórias por vezes extremamente dolorosas, mas com camadas, profundidade e em uma prosa poética que fascina. A violência das situações e temas contrasta com a leveza que Conceição consegue imprimir na narrativa, tornando o livro um momento especialíssimo da literatura brasileira. No futuro, os que lerem 'Olhos d'Água' poderão entender um pouco mais sobre dramas pouco visíveis de um Brasil brutal, mas com o extremo cuidado e talento da escrita de Conceição Evaristo.

Ir para página do livro chevron_right

Indicações fora da lista

As resenhas dizem que 'este livro reúne elementos históricos sobre a formação do Brasil em seu caráter étnico, identitário e cultural e mostra ao leitor as contribuições dos Bantos nesse processo'. No entanto, é muito mais. Além de trazer novas nuances do islamismo na cultura negra, este é um livro extremamente corajoso e ousado. Lançado em 1988, ano da Constituição Cidadã e da criação da Fundação Cultural Palmares, ele traz uma África diferente dos estereótipos muito mais reforçados à época e mostra a contribuição banta no idioma e na cultura de toda a nação. Hoje, com mais de 40 títulos publicados, Nei Lopes é Doutor Honoris Causa da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Prêmio Jabuti de 2010 de livro paradidático, este é um livro que rastreia trajetórias de vida de escravos e libertos entre as duas décadas que antecedem a abolição, em 1888, e os primeiros vinte anos depois. A população investigada é a do Recôncavo Baiano; e o livro consegue captar as experiências da escravidão, de variadas maneiras, no dia a dia dos ex-escravizados no pós-abolição. Documentos oficiais, correspondências policiais, registros cartoriais, inventários, jornais, romances, memórias e correspondências privadas são confrontados, cruzados para descobrir o que significava a liberdade para os egressos do sistema escravista mais longo do período do comércio transatlântico de almas.

Prêmio Thomas Skydmore de 2018, o livro fala do impacto das leis sobre a população africana na Bahia do século 19. A obra consegue demonstrar como o medo de que os africanos e africanas libertos fossem uma ameaça para a segurança afetou a elaboração e a aplicação das leis. Uma abordagem originalíssima, pois esmiuça a experiência da população escravizada por intermédio de sua relação com a legislação. É fácil ver como a população vista como não-cidadã pela Constituição do Império ficou vulnerável a leis duríssimas, que se tornaram ainda mais cruéis depois da Revolta dos Malês, em 1835. Uma leitura importante para um Brasil que chega ao século 21 tendo o racismo ainda como balizador de crime e castigo.