Descrição de chapéu Independência, 200

200 anos, 200 livros

Conheça 200 importantes livros para entender o Brasil, um levantamento com obras indicadas por 169 intelectuais da língua portuguesa

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Fernanda Torres

Atriz, escritora e colunista da Folha

As indicações de Fernanda Torres

Grande Sertão: Veredas' é o Fausto sertanejo. Um livro que coloca o Brasil no centro dos dilemas mais profundos da humanidade, ao discutir a natureza do bem e do mal. Como se não bastasse, Guimarães Rosa inventa línguas. Não há o que dizer de 'Grande Sertão: Veredas', é preciso lê-lo.

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É um livro absurdo, cortante, hilariante, moderno e terrível. É o retrato de Machado de Assis de uma elite caprichosa, egoísta e volúvel, num livro que marca a grande virada literária do bruxo.

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11º

Se Euclides da Cunha tivesse escrito apenas a parte final de 'Os Sertões', 'A Guerra', esse livro extraordinário já seria um clássico, mas não. As duas primeiras partes, 'A Terra' e 'O Homem', misturam geologia e antropologia com alta literatura. Cunha é capaz de transformar a luta de uma planta para se desenvolver no solo árido da caatinga em paixão de Cristo, em drama épico. 'Os Sertões' é um livro fundamental para se entender o Brasil.

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16º

O mais belo livro já escrito. Nesta obra autobiográfica, Claude Lévi-Strauss narra as duas viagens que fez ao Brasil, na década de 1930. A primeira teve como missão educar os filhos da elite cafeeira, na recém-inaugurada USP. Na segunda viagem, o antropólogo se embrenhou pelo sertão e pelas matas, a fim de conhecer os povos originários do Brasil. Da impaciência europeia com o tempo relativo da empreitada, onde um quilômetro podia demorar dias para ser vencido; à descoberta de que a organização circular da taba ordena não só o cotidiano das tribos, como sua cosmogonia, o périplo serve para operar uma revolução íntima no viajante. Ele, que havia sido chamado para civilizar o Brasil, termina como um branco horrorizado com a voracidade genocida da civilização à qual pertence.

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19º

A escravidão fundou o Brasil. Nessa trilogia monumental – cujo terceiro volume ainda está para ser publicado -, o historiador Laurentino Gomes revela o impacto dos trezentos anos de tráfico de humanos entre a África e as Américas, nos três continentes que lucraram e se desenvolveram graças ao comércio dos navios negreiros. Não haveria Brasil sem África. Laurentino mete a mão no vespeiro norteado pelo pragmatismo econômico, e tece a malha de relações sociais, empregatícias, legais, linguísticas, religiosas e afetivas herdadas do regime escravocrata.

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33º

As Ideias Fora do Lugar', capítulo de abertura de 'Ao Vencedor, as Batatas', é um ensaio seminal do crítico literário Roberto Schwarz, sobre a entrada do Brasil no mundo moderno, através de uma economia baseada no latifúndio arcaico escravocrata. No livro, o professor se vale da literatura para demonstrar a inadequação dos ideais liberais do romantismo europeu do século 19, num país patriarcal como o nosso, tendo como base a evolução dos romances de Machado de Assis, desde 'Ressurreição' e 'Iaiá Garcia' até 'Memórias Póstumas de Brás Cubas'.

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95º

Nelson Rodrigues transformou o drama do suburbano médio brasileiro em tragédia grega, em Medéia, Édipo e Antígona. 'Álbum de Família' se passa na casa grande e retrata a herança patriarcal das fazendas que nos fundaram. Assim como 'Vestido de Noiva', 'Toda Nudez Será Castigada', 'Anjo Negro', 'Beijo do Asfalto' e toda a vasta produção literária rodrigueana, 'Álbum de Família' consegue ser ao mesmo tempo épica, trágica e ridícula.

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95º

Meus Romanos' é um livro fininho e curioso. Trata-se das cartas enviadas por uma preceptora alemã contratada para educar os filhos dos grandes fazendeiros no Brasil. Através de pequenos gestos, das brincadeiras infantis, da sala de aula, Binzer revela o caráter escondido dos brasileiros.

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Indicações fora da lista

Bilhões e Lágrimas' é a reunião das reportagens da jornalista Consuelo Diéguez, publicadas na Revista Piauí de 2006 a 2014. Trata-se da retrospectiva da economia brasileira do período, feita através do perfil de banqueiros, economistas, empresários e investidores. Da privatização das Teles ao investimento do BNDES em salsicha, do Pró Álcool ao Pré-Sal, de Daniel Dantas a Luciano Coutinho, o livro revela o poder dos agentes graúdos do chamado mercado de levar um país a ganhar, ou perder, décadas.

Neste livrinho cruel e esclarecedor, Millôr Fernandes demole as ambições analítico poético literárias de dois ex-presidentes da República, José Sarney e Fernando Henrique Cardoso. A hilariante análise de 'Brejal dos Guajas' e 'Dependência e Desenvolvimento na América Latina' reúne três exemplos de erudição brasileira, a do presidente poeta, a do sociólogo uspiano e a do órfão autodidata, rato de redação e gênio iconoclasta, Millôr Fernandes