Descrição de chapéu Independência, 200

200 anos, 200 livros

Conheça 200 importantes livros para entender o Brasil, um levantamento com obras indicadas por 169 intelectuais da língua portuguesa

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Graça Graúna

Indígena potiguara, é poeta e crítica literária, autora de "Tessituras da Terra"

As indicações de Graça Graúna

Uma das temáticas do xamã Davi Kopenawa é a floresta. Na parte introdutória do livro, ele diz que gosta de explicar para os 'brancos' a importância dos saberes ancestrais e espera que os não indígenas parem de pensar que a floresta é morta e que ela foi posta lá à toa. O xamã explica que os não indígenas precisam 'escutar a voz dos xapiri (espíritos), que ali brincam sem parar, dançando sobre os seus espelhos resplandecentes' (os rios, os lagos). Kopenawa reitera que os yanomami defendem a terra 'porque desejam continuar vivendo nela como antigamente'. Que assim seja porque as palavras dos espíritos estão gravadas no mais fundo do seu pensamento e que, pela força de Omana (o Criador), essas palavras se renovam no xamã o tempo todo.

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50º

Neste livro, Bosi oferece uma leitura profunda do ponto de vista poético e crítico sobre a literatura jesuítica, como sugerem os capítulos: 'Anchieta ou as Flechas Ppostas do Sagrado' e 'Vieira ou a Cruz da Desigualdade'. Com esse livro de Bosi, intuímos que o 'Auto da Festa de São Lourenço' (representado em 1583) traz o discurso dominante e preconceituoso sobre a conversão do indígena e sua edificação com o 'branco'. Nesse Auto, um tamoio representa o espírito ruim (guaixará) que atacou os lusitanos em São Sebastião do Rio de Janeiro, no ano de 1566.

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95º

Temos aqui uma obra transfigurada em cartas abertas para quem abre o coração para o outro: o excluído. Refiro-me à 'Terceira Carta Pedagógica' que Paulo Freire escreveu pouco antes de falecer, em 2 de maio de 1997. Na madrugada de 20 de abril desse mesmo ano, cinco jovens atearam fogo e assassinaram Galdino Pataxó. Não devemos esquecer que um indígena foi morto enquanto dormia, em uma parada de ônibus próxima ao prédio da Funai, na capital federal. Galdino estava em Brasília para reivindicar a demarcação do território Pataxó que foi invadido por fazendeiros na localidade de Pau Brasil. Essa tragédia retrata a deficiente política de combate aos crimes cometidos contra os povos indígenas.

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95º

Muitos desconhecem que 'Pindorama' significa 'Terra das palmeiras'. Pindorama: era assim mesmo que os povos originários de língua tupi chamavam a terra onde viviam. Melhor é intuir o que Marilda Castanha nos conta nesse livro que deveria ser para todas as idades: 'Em Pindorama, todos os dias eram dos índios e também dos papagaios, dos tamanduás, dos gaviões. E do urubu-rei, da jaguatirica, da ariranha, do jacaré-de-papo-amarelo, do peixe-boi, do lobo-guará, do macaco-prego, do mutum'. Creio que este trecho mostra a grandeza desse livro, embora seja catalogado como literatura infanto-juvenil. Antes das caravelas tudo parecia eterno. Hoje, a luta é uma constante para salvaguardar o que restou de Pindorama; sobretudo a preservação da língua, os costumes, a tradição.

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Indicações fora da lista

No momento em que a vida está em ameaça é urgente/necessária a leitura e releitura dessa obra. As cartas desse livro podem ser consideradas uma forma de enfrentamento em tempos de pandemia; nesse tempo de fragilidade política, em que o bem viver é um contraponto no mundo cartesiano. Esse livro é um espaço de confluência e do qual participam as lideranças indígenas Ailton Krenak, Sônia Guajajara, Rafael Xucuru-Kariri, Denilson Baniwa e outros ativistas (indígenas e não indígenas) que dialogam também sobre a lógica do bem viver; sublinhando o respeito, o amor a nossa Mãe Terra.