Quarto de Despejo
Carolina Maria de Jesus
29 indicações
Conheça 200 importantes livros para entender o Brasil, um levantamento com obras indicadas por 169 intelectuais da língua portuguesa
Luciana Brito
Historiadora, é professora da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia)
As indicações de Luciana Brito
Quarto de Despejo
Carolina Maria de Jesus
Publicado em 1960, portanto somente quatro anos antes do golpe militar, o livro de Carolina de Jesus nos mostra que os problemas da população negra brasileira podem até ter se aprofundado depois do rompimento do regime democrático, mas desde antes a fome, a miséria e a falta de políticas públicas, além do racismo e do sexismo, já eram realidades nas periferias das grandes cidades. Carolina vivia uma realidade marcada pela fome, mas também por sua criatividade, sua poesia e sua sofisticação literária. A obra revela um outro Brasil, não aquele da democracia racial. Carolina de Jesus nos conduz para o Brasil da maioria da população, reafirmando sua incrível capacidade de descrever, analisar e problematizar o cotidiano.
Ir para página do livro chevron_rightRebelião Escrava no Brasil: a História do Levante dos Malês
João José Reis
Em janeiro de 1835, a cidade de Salvador foi agitada pela notícia de que estava em curso um plano de uma revolta organizada por africanos muçulmanos, escravizados e libertos. O Levante dos Malês foi uma resposta organizada da população negra islamizada ao escravismo, à violência e à perseguição religiosa. O mote maior do levante era o fim da escravidão, mas a religiosidade foi a liga que cimentou a união de pessoas negras, a maioria delas africanas, em condições distintas. O livro é fruto de décadas de pesquisa do pesquisador e historiador João José Reis que, com este livro, trouxe uma imensa contribuição na academia e fora dela sobre a agência das pessoas escravizadas e, sobretudo, sobre a resistência que empreenderam contra o cativeiro.
Ir para página do livro chevron_rightÁgua de Barrela
Eliana Alves Cruz
A trajetória da família de Eliana Alves Cruz contada no romance 'Água de Barrela' é a própria estória das pessoas negras no país desde que chegaram do continente africano, mas sobretudo no pós-abolição. Este romance histórico mistura fabulação crítica, imaginação literária negra e pesquisa histórica, além das memórias de Tia Anolina, tia-avó da autora. O livro demonstra como que, ao mesmo tempo em que o Brasil escravista conformou mecanismos de controle e exploração do trabalho de pessoas negras, elas também construíram projetos resistentes de acesso à educação, ascensão social, do direito à manutenção dos vínculos familiares e ao amor.
Ir para página do livro chevron_rightO Quilombismo
Abdias Nascimento
Publicado nos anos 1970, o livro é uma oferta (ou oferenda) de Abdias Nascimento à sociedade brasileira para a construção de um novo projeto civilizatório para o país, dessa vez a partir das demandas e propostas da intelectualidade e militância negra brasileira. Quebrando a lógica de um suposto 'problema negro', Abdias Nascimento coloca, no centro dos problemas brasileiros, os interesses, privilégios e descompromissos de setores brancos patriarcais com o grande problema do Brasil. O livro traz uma riqueza de encaminhamentos para uma sociedade igualitária em todos os campos de atuação, nos quais, segundo esse político, artista e intelectual, as pessoas negras deveriam ser protagonistas, como a política, as artes, o meio ambiente, a educação e religiosidade.
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Beatriz Nascimento, Quilombola e Intelectual: Possibilidade nos Dias da Destruição
Beatriz Nascimento
Beatriz Nascimento foi uma das maiores intérpretes do Brasil, assim como foi Lélia Gonzalez. Registros do seu pensamento já foram, e continuam sendo, divulgados em outras publicações, mas destaco esta edição organizada pelo editora Filhos da África. Na obra, podemos mergulhar nas suas preocupações políticas, projetos acadêmicos e perspectivas sobre a formação da sociedade brasileira. A historiadora Beatriz Nascimento entendia a forma como a história do Brasil foi escrita como problemática, por ser restrita ao olhar dos homens brancos. Beatriz reivindica a importância de uma história escrita por mãos negras, na qual o ponto de vista da intelectualidade negra fosse reconhecida com a devida importância.
Entre o Branco, o Encardido e o Branquíssimo
Lia Wainer Schucman
Fruto de uma pesquisa que colheu depoimentos de pessoas negras e brancas em São Paulo, de classes sociais distintas, Lia Vainer Schucman investigou como a questão da desigualdade racial é fundamental na forma como as hierarquias e desigualdades se organizam no Brasil. A partir da análise das percepções que pessoas negras e brancas, pobres ou não, têm de si mesmas, assim como dos seus privilégios e desvantagens dos lugares que ocupam na sociedade brasileira, Lia afirma o lugar da branquitude como condição de acúmulo de privilégios que forma as subjetividades das pessoas brancas brasileiras, a despeito da sua condição econômica ou gênero.
O Jogo da Dissimulação
Wlamyra Albuquerque
Muito se afirma apressadamente que o que difere o sistema racista da sociedade brasileira para a estadunidense é a falta de leis segregacionistas. No livro de Wlamyra Albuquerque, fruto de uma pesquisa histórica densa e análise historiográfica acurada, a autora aponta como as elites nacionais, por meio dos aparelhos de justiça e política, foram assertivamente utilizando a raça, aqui no sentido social e político, para estabelecer os níveis de cidadania a serem ocupados por homens e mulheres no Brasil pós-abolição.