Claude Lévi-Strauss constata a tendência ao desaparecimento das populações indígenas originárias, caçadas e acuadas pelo mesmo moderno que promete um país justo, igual e democrático. Uma constatação que vai de par com o envelhecimento precoce do 'sempre novo' brasileiro, que se torna obsoleto com a mesma rapidez com que é erigido. O que revela também de que maneira traços singulares do país são soterrados: por uma cultura que, longe de ser verdadeiramente antropofágica, é antes autofágica.

O enorme esforço de produção de dados realizado por Celso Furtado para dar consistência e profundidade histórica à sua análise só tem paralelo na originalidade de uma abordagem que não ignora a força de escolhas não diretamente econômicas das elites que, em grande medida, moldaram o sentido do desenvolvimento do país. Sua ideia de 'formação' é aberta e generosa o suficiente para mostrar tanto o resultado das escolhas feitas como a abertura para escolhas alternativas, melhores.

Florestan Fernandes desfaz o mito da 'democracia racial' tanto quanto apresenta as estratégias de luta dos movimentos negros contra a dominação. Foi 'com vigorosa comprovação empírica' que mostrou como, na história do país, 'não só os mecanismos de dominação racial tradicionais ficaram intactos', mas igualmente que 'a reorganização da sociedade não afetou, de maneira significativa, os padrões pré-estabelecidos de concentração racial de renda, do prestígio social e do poder'.