Publicado pela primeira vez em 1905, o livro desse médico de formação teve o mérito de reconhecer antes de muitos intelectuais do período o papel que a experiência colonial havia exercido na formação do Brasil. Para ele, as ações ruinosas dos colonizadores produziram efeitos através da era moderna sobre o continente, moldando a vida pública dos países a partir da prática do que ele chamou de 'parasitismo'. Termo retirado da prática médica, ele foi a porta para explicar que nossos males não tinham origem em fatores naturais ou raciais, mas em nossa formação histórica e na configuração desigual de nossa sociedade. Até hoje o livro tem grande atualidade.

Esta que provavelmente é a maior saga da literatura brasileira tem o poder de conduzir, por meio do destino de personagens singulares, diretamente a algumas das raízes sociais e políticas mais importantes de nosso país. Narrando a história de famílias radicadas no extremo sul do país, o livro também pode ser lido como um verdadeiro romance de formação da nacionalidade. Os aspectos particulares de natureza humana e geográfica se combinam de maneira perfeita com a história, que é um personagem fundamental do desenrolar da trama ao longo dos séculos que enquadram as ações. O livro é uma ferramenta poderosa para a compreensão da formação do Brasil.

Concebido originalmente para um concurso literário da revista Diretrizes, no qual finalmente não foi inscrito, o livro é uma pérola literária de um dos nossos maiores escritores. Dirigido às crianças, ele conta, por meio de pequenos verbetes, como se deu a criação e a consolidação da experiência republicana entre nós. O fato de ser dirigido para um público específico transforma cada verbete num prodígio de síntese e simplicidade, o que permite um olhar ao mesmo tempo agudo e saboroso de nossa história contemporânea.