A vontade criativa que enfim se impõe, antes calada –pelas marcas da escravidão, que nos legaram racismo arraigado e pernicioso, e lugares urbanos e sociais de exclusão–, fazem da obra de Carolina Maria de Jesus de algum modo um símbolo da potencialidade que só consegue ver a luz 'na marra'; de resto, pela linguagem poderosa forjada na adversidade e que vem antecipar muito da cultura urbana e periférica que enfim se impôs.
Apesar de suas conhecidas limitações, o elemento central do livro, a constatação de que estamentos burocráticos conseguem se apropriar dos aparatos político-administrativos e exercer o poder de acordo com seus próprios interesses, borrando as fronteiras entre público e privado e prejudicando o desenvolvimento do país, parece incomodamente seguir nos atormentando. E nos inspira a pensar que, sem instituições fortes e sólidas, não haverá democracia plena ou desenvolvimento sustentável e sustentado.
Por muito mais, mas somente pelo maravilhoso insight, no capítulo 'São Paulo', sobre a decrepitude de nossos centros urbanos antes que sequer haja tempo de se chegar à decadência, esse maravilhoso livro de viagens anti-viagens já merece estar na lista.
A vontade criativa que enfim se impõe, antes calada – pelas marcas da escravidão, que nos legaram racismo arraigado e pernicioso, e lugares urbanos e sociais de exclusão –, fazem da obra de Carolina Maria de Jesus de algum modo um símbolo da potencialidade que só consegue ver a luz 'na marra'; de resto pela linguagem poderosa forjada na adversidade e que vem antecipar muito da cultura urbana e periférica que enfim se impôs.
O rigor no método e o apego aos dados da historiadora da economia (ou quando os dados precedem o problema e a tese) foram profundamente inovadores e vieram a inspirar uma geração de estudiosos que buscaram compreender e explicar processos históricos numa chave diversa daquela dos ensaios de interpretação.