O 'Diário de uma Favelada', epíteto que consagrou o livro como best-seller, é um retrato cru do Brasil –tanto pelo que conta quanto pelo tratamento que se dispensou a quem conta. À Carolina, que não veio da classe social nem da raça associadas à maioria dos autores brasileiros, sempre foi negado o status de escritora. Mas só um talento literário excepcional conseguiria produzir aquelas que são as mais tristes e duras páginas da literatura brasileira sobre a fome, o racismo e a demofobia congênita do país.

Épico irônico, saga destrambelhada, exercício de virtuose narrativa, o romance mais ambicioso do autor de 'Sargento Getúlio' se espraia entre os séculos 17 e 20 em peripécias que, tendo a Bahia como centro, giram em torno da formação do Brasil. Os episódios, vividos ou inventados, sucedem-se nos estilos literários característicos de cada época. Entre sátira e alto lirismo, Ubaldo faz uma apaixonada defesa da emancipação –dos indígenas, dos negros, das mulheres, dos despossuídos, do país.

Preso em 1936 sem acusação formal, o então secretário de educação de Alagoas manteve um diário que se perdeu e, anos mais tarde, seria retomado numa complexa costura de reconstituição e reflexão. Publicadas postumamente, as 'Memórias do Cárcere' são uma meditação sobre liberdade e poder de um intelectual independente diante do 'pequenino fascismo tupinambá', safra Vargas. 'Começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a Delegacia de Ordem Política e Social', escreve. 'Mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer'.