Descrição de chapéu Independência, 200

200 anos, 200 livros

Conheça 200 importantes livros para entender o Brasil, um levantamento com obras indicadas por 169 intelectuais da língua portuguesa

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Randolfe Rodrigues

Presidente da Comissão do Bicentenário da Independência do Brasil do Senado Federal

As indicações de Randolfe Rodrigues

10º

Esta obra das professoras Heloisa Starling e Lilia Schwarz representa um levantamento exaustivo e atualizado da historiografia brasileira, que traduz a erudição das autoras sobre o tema. Que não se espere um livro de estilo factual. Apesar da linguagem fluente e acessível ao leitor não especializado, o livro traz nos seus 18 capítulos uma análise crítica rigorosa sobre os grandes fatos históricos que mediaram nossa formação. Nestes tempos em que vemos com frequência o retorno de discursos de apoio a aventuras ditatoriais, mais que nunca são proféticas as palavras finais que lemos neste jovem clássico da historiografia brasileira: 'Toda história é aberta, plural, e permite muitas interpretações. A que tentamos desenhar aqui mostrou o quanto vem sendo difícil a nossa construção cidadã. De toda forma, os desafios para que se altere o imperfeito republicanismo do Brasil são muitos: a sua persistente fragilidade institucional, a corrupção renitente, o bem público pensado como coisa privada. A grande utopia quem sabe ainda seja acolhermos os valores que têm como direção a construção do que é público, do que é comum. Talvez comece nesse desafio mais um capítulo da história do Brasil. Afinal, feita a opção democrática, também a República pode recomeçar'.

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12º

As gerações de jovens brasileiros podem contar com gigantes que buscaram interpretar nosso país. Um deles é o professor Darcy Ribeiro, dono de uma personalidade brilhante e cativante. Etnólogo afamado, foi autor de clássicos sobre nossa formação, escritos com rigor e objetividade, sem deixar em momento algum de transparecer sua paixão incondicional pelo Brasil. Se quisermos entender o processo da formação de nosso povo, este é um livro imprescindível e, por que não dizer, de entrada para compreendermos quem somos enquanto brasileiros a partir de nossos costumes sociais, religiosos, de como formos nos aldeando em vilas e cidades, avançando pelo sertão e, claro, fomos estabelecendo conflitos que ao longo dos séculos foram acontecendo, a partir das relações estabelecidas entre os povos indígenas, os africanos, o colonizador português, o cadinho de povos que conforma nossa nacionalidade.

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13º

O sociólogo, jurista e cientista político Raymundo Faoro é um exemplo de autor que seguiu uma trajetória de esquerda e cuja leitura nem por isso será menos prazerosa a um liberal clássico ou conservador. Sua proposta geral, contudo, é desnudar algo que não é de se louvar: o legado patrimonialista, materializado através de uma tônica constante em nossa formação e desenvolvimento, aquilo que ele chama de 'capitalismo politicamente orientado', conceito mais genérico para o que modernamente se chamaria de 'capitalismo de Estado'.

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19º

Entre os anos 2002 e 2016, o jornalista Elio Gaspari --com base nos arquivos que lhe foram legados pelo general Golbery do Couto e Silva-- escreveu uma história da ditadura militar, iniciada em 1964. Trata-se de obra monumental não somente porque apresentada em quase 3.000 páginas, mas sobretudo pelo conteúdo que reflete o ineditismo arquivístico de um ator de extrema importância nos cinco governos de perfil civil-militar dos presidentes Castelo Branco, Costa e Silva, Medici, Geisel e Figueiredo. Como disse Heloisa Buarque de Hollanda, ler esses livros 'é como ouvir uma conversa proibida'. A obra foi organizada em cinco volumes, com títulos provocativos, quase irônicos e nada sentimentais, que refletem certamente o 'humour' da alma mater que a proveu com os alicerces ou feitiços necessários para se materializar: 'A Ditadura Envergonhada', 'A Ditadura Escancarada', 'A Ditadura Derrotada', 'A Ditadura Encurralada' e 'A Ditadura Acabada', este último publicado há seis anos.

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19º

Todos os brasileiros deveriam ler essa obra-prima, que foi resultado de seis anos de pesquisa. O livro causa insônia ao relatar, de forma muito clara e transparente, todos os horrores da escravidão, do primeiro leilão de cativos em Portugal à morte de Zumbi. Laurentino mostra como aconteceu o maior crime que um ser humano pode cometer contra outro ser humano, crime que marcou de forma profunda a identidade nacional.

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95º

Dalcído é a voz do Norte no regionalismo brasileiro. Chegou tardiamente, mas com um brilho indiscutível, que o torna um dos mais importantes romancistas brasileiros. 'Chove nos Campos de Cachoeira' foi sua obra inaugural, com ele é inaugurada uma obra prolífica que os críticos chamam de série do Extremo Norte. Dalcídio era filho de uma família muito humilde, com residência na Ilha do Marajó. Com poucos recursos financeiros e sem reconhecimento social, só pôde editar seu primeiro livro depois que venceu o concurso nacional da revista Dom Casmurro. Depois ninguém mais o segurou. Seus romances narram a saga de um menino, Alfredo, desde a cidade de Cachoeiro do Arari, no Marajó, passando por diversas fases de sua formação e de acontecimentos históricos no Pará e no Brasil. O Ciclo do Extremo Norte completo soma dez volumes, no qual encontramos páginas belíssimas de grande conteúdo humano, que descrevem a alma amazônica de seus habitantes, que lidam com adversidades das cidades do interior à cidade grande.

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95º

O romance se passa em Manaus, uma capital cercada pela floresta e pelos rios, em plena Pan-Amazônia. No livro, também estão presentes a diversidade de costumes e línguas, e a convivência entre indivíduos de diferentes nacionalidades. O romance remete à visita de uma mulher à cidade de sua infância depois de ter passado quase 20 anos fora. A partir dos acontecimentos que se desenrolam após sua chegada, ela vai relembrando e descobrindo histórias do seu passado e da família que a criou.

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Indicações fora da lista

Alcy Araújo Cavalcante nasceu no Pará em 7 de janeiro de 1924, mudando-se em 1953 para Macapá, onde exerceu vários cargos públicos. Mas notabilizou-se pela qualidade de sua obra literária. 'Autogeografia', publicado em 1967, reúne poesias e crônicas nas quais alinha 'palavras unicamente para colocar no quadro da minha geografia este ou aquele cais, os caminhos, os abismos, os desertos, as latitudes em que estacionei e vivi no minuto preciso para dizer o que está dito', como está escrito no prefácio pelo autor. Alcy Araújo faleceu em 22 de abril de 1989, em Macapá.

O poeta paraense Max Martins publicou mais de uma dezena de títulos em 50 anos de vida literária, na qual natureza, inquietude existencial e sensualidade estão combinadas a um rigor formal em que aparecem influências orientais. Recebeu em 1993 o prêmio Olavo Bilac de poesia, da Academia Brasileira de Letras, pelo livro 'Não Para Consolar', que seria traduzido para o alemão ('Der Ort Wohit'). Foi funcionário público da extinta Sucam, embora, disse Benedito Nunes, sua real profissão fora a poesia que viveu e escreveu. Max Martins faleceu octogenário em 2009.

Da Matta explora as contradições da sociedade brasileira e as distinções de tratamento que fazemos cotidianamente às pessoas, de acordo com a posição social que ocupam. Os três ensaios aqui apresentados abordam o comportamento de 'autoridades', pessoas abastadas ou celebridades que promovem um espetáculo deprimente de racismo, misoginia e ignorância, convidando-nos a uma reflexão profunda sobre a sociedade que estamos construindo no Brasil.