Descrição de chapéu Independência, 200

200 anos, 200 livros

Conheça 200 importantes livros para entender o Brasil, um levantamento com obras indicadas por 169 intelectuais da língua portuguesa

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Ruy Castro

Autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, e colunista da Folha

As indicações de Ruy Castro

O Brasil do Segundo Reinado e às vésperas da República, mas já com todas as características que formariam o nosso caráter ou falta de: a criatividade, o oportunismo, o cinismo, a irresponsabilidade, o humor. E, literariamente falando, a prova da tremenda maturidade da construção, da observação e da escrita entre nós. Como Machado não era o único autor e nem este o único livro de seu tempo a ostentar tais qualidades, que arrogância foi aquela de, poucas décadas depois, fazer tábula rasa do passado do Brasil?

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95º

Também publicado originalmente em jornal (na Última Hora) como folhetim, em capítulos incrivelmente diários. Retrata o Brasil urbano, industrial, cruel, corrupto, virtuoso, amoral e sentimental, tudo ao mesmo tempo. É também um apanhado da língua que se falou no país em boa parte do século. Um entra-e-sai de personagens reais e imaginários, quase todos repulsivos, e não saídos do submundo, como seria normal, mas da mais secreta das instituições brasileiras: a família. É também o maior romance sobre a imprensa no Brasil e talvez um dos maiores do mundo no gênero. E é igualmente uma prova da ousadia do país naquele tempo: como esse material, envolvendo desejo, adultério, incesto, lesbianismo, estupro e automutilação, podia sair em um jornal que se comprava nas bancas e ser lido por um garoto de 12 anos - eu -, maravilhado com aquilo tudo?

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95º

Livro publicado originalmente em capítulos semanais no jornal Correio Mercantil, em 1852, em que o autor trabalhava - não como um colaborador diletante, mas como homem da redação, misto de redator, articulista e fechador, o que o torna o primeiro jornalista profissional brasileiro a escrever literatura. Livro que também desafia definições. É um romance? Claro que é, mas é também um colossal levantamento etnográfico, de costumes, policial, linguístico, musical, religioso, etc., do Brasil que a Corte encontrou em 1808 - e como tal foi visto por muito tempo. E, sendo um romance, de que gênero? Romântico, jamais - talvez realista avant la lettre, antes mesmo que o realismo se instalasse na Europa. O carioca Manuel Antonio de Almeida escreveu-o aos 20 anos e morreu com 30.

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95º

O Brasil da ditadura militar, do passado que nos levou a ela e do que aconteceria no futuro breve. Poucos romances brasileiros foram tão contemporâneos, mas a prova de sua permanência está em que, hoje, em 2021, quando há décadas já nos julgávamos maduros e imunes, podemos voltar àquela terrível realidade. Carlos Heitor Cony, também jornalista, praticava essa dupla militância - o hoje e o sempre -, talvez porque vivesse profissionalmente dela. Muitos de nós conhecemos pessoas como seus personagens neste livro. E os mais jovens, que não tiveram essa oportunidade, precisam saber que já houve gente no Brasil disposta a, certo ou errado, e por incrível que hoje pareça, dar a vida por ele.

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Indicações fora da lista

A poesia moderna brasileira livre da ditadura europeia, inclusive a da cópia dos vanguardismos franceses já superados na origem, e o ingresso do Brasil na realidade americana, continental. Ronald de Carvalho, além de poeta, era diplomata. Em 1924, aos 31 anos, já conhecia as três Américas. Seu livro é a cidade, o sertão, a selva, os pampas, as cavalhadas, os Andes, as ilhas do Caribe, Wall Street, a Broadway. É um épico condoreiro, um mural azteca, um faroeste verbal, numa linguagem em voz alta, whitmaniana - e reveladoramente pré-Pound de 'Os Cantos' e pré-T.S. Eliot, de 'The Waste Land', autores que nem Ronald, com sua vasta leitura que humilhava a de Mário de Andrade, conhecia.