Muito já se disse que, como seu nome indica, Brás é o Brasil. Se não chega a tanto, é certamente, em nossa galeria de tipos literários, a mais completa caricatura da fração 'ilustrada' de nossa elite, que nesse romance de 1881 --marco inicial de sua obra madura– Machado retrata na figura do autor-defunto como pusilânime, volúvel, hipócrita, egoísta, cruel, amante da cultura ornamental, moralmente gelatinosa e socialmente insensível.

Em escala épica, esse romance tragicômico de 1984 é uma rara tentativa de pintar um retrato literário de corpo inteiro da nacionalidade. Sucesso de público, mas subvalorizado pela academia, traz um compêndio impressionante de discursos sobre o país, dos míticos aos históricos, e no fim soa como réquiem. Uma crítica corrente é que suas múltiplas partes não compõem um quadro coerente que aponte o futuro –mas não se pode dizer o mesmo do Brasil?

O título de 1975 ficou na história como o mais emblemático de algo que o autor realizou livro após livro, nos anos 1960 e 1970: dar expressão ultrarrealista à violência extrema que é o fruto maduro do velho projeto brasileiro de exclusão da maioria da população. A catástrofe social das grandes metrópoles do país ficou clara primeiro ali, e se confirmou nos anos seguintes de modo tão cabal que o autor soa quase profético.