Segunda obra da trilogia sobre a Independência do Brasil, 1822 é ao mesmo tempo um trabalho incansável de pesquisa e uma leitura deliciosa sem academicismos. O Brasil tinha tudo pra dar errado (e, infelizmente, em 2020 e 2021, voltamos a acreditar nisso): éramos muito pobres, analfabetos, ignorantes e dom João ainda deixou o país completamente falido. Mas aqui Laurentino explica como e por que, naquele ano, e no melhor estilo 'jeitinho brasileiro' ou 'Deus é brasileiro', acabamos saindo muito melhor do que o esperado. Livro necessário para entender a escravidão brasileira, a arrogância medrosa de uma minoria branca que temia perder as certezas e os privilégios e, sobretudo, tomar conhecimento da vida deveras promíscua de dom Pedro 1º.

O saudoso Contardo se valeu aqui de sua vasta experiência na psicanálise e em estudos na área da antropologia para tentar explicar o duplo gozo do brasileiro em ser ora colono, ora colonizador. O autor italiano, por meio desses ensaios, estava também tentando entender porque ele, homem do mundo, ficou tão seduzido pelo país e o fez de moradia até o fim da vida.