Marco de seu tempo, que revolucionou e oxigenou o branco e masculino mercado literário brasileiro, e que permanece assustadoramente atual. Apesar das décadas que separam a abolição jurídica da escravidão, em 1888, e a publicação do livro, o Brasil retratado pela genial Carolina Maria de Jesus na favela do Canindé, em São Paulo, estava tão próximo do regime escravocrata quanto estamos hoje. A prosa da grande escritora emociona, fere e conclama a (revolução) reflexão.

O romance histórico, fruto de minuciosa pesquisa da autora, é o mais completo e bem redigido 'resumo' (apesar de suas mil páginas e riqueza de detalhes) da história do Brasil; uma 'aula' travestida de livro com uma narrativa envolvente e personagens complexos. Uma obra que mostra não só os horrores da escravidão —e os que até hoje se beneficiam dela—, mas sobretudo a agência que africanos e seus descendentes sempre tiveram na luta pela liberdade.

Obra fundamental de um dos mais importantes intelectuais e ativistas do Brasil. Embora requeira do leitor ao menos algum letramento na temática étnico-racial, o livro é um convite ao aprofundamento: a porta de entrada não só para o trabalho do próprio Abdias (que incluiu, por exemplo, as artes plásticas) quanto de outras teóricas e práticas do antirracismo no Brasil, como Sueli Carneiro e Lélia Gonzalez.