Este livro, considerado um 'clássico' por Antonio Candido, ficou conhecido por muito tempo pela interpretação equivocada do capítulo 'O Homem Cordial', em que o adjetivo do título foi interpretado como 'delicado', quando tinha mais a ver com sua origem etimológica latina, 'cor, cordis', que significa 'coração'. Daí a permanência da predominância nas nossas relações sociais, sobretudo políticas, dos laços afetivos e familiares, do nepotismo, do pistolão.

Antonio Candido lera o livro quando estava no ginásio e ficara impressionado com a franqueza com que tratava de relações sexuais e ressaltava como contribuição principal o reconhecimento da importância do escravo na formação do nosso modo de vida. O tema é ainda atual, como comprova o best-seller 'Escravidão', de Laurentino Gomes. Os dois primeiros volumes da trilogia estão hoje entre os mais vendidos do país.

É o livro mais importante desse marxista e militante ligado ao Partido Comunista Brasileiro, o que não o impediu de, nas suas análises sobre as relações entre nação e colônia, preferir a realidade dos fatos à ideologia. Ele foi talvez o primeiro dos intérpretes a introduzir categorias econômicas, como produção e consumo, nos seus textos políticos. Ele já se ocupava com o país exportador do que chamaríamos hoje de commodities minerais e agrícolas.