Habitat

um podcast sobre extinção e o que a gente tem a ver com isso

episódios da série

Desmatamento no cerrado pode fazer reservas de água do país secarem

Destruição da vegetação no bioma ameaça abastecimento das principais bacias hidrográficas brasileiras

São Jorge (GO)Em março, entramos em um avião em São Paulo (SP) com destino a Brasília para a primeira viagem do Habitat. Nosso objetivo era ir ao coração do cerrado para ver espécies de plantas que correm o risco de desaparecer —e conhecer o bioma que, se devastado, pode comprometer as reservas de água do país.

Armadas com a máscara de proteção e o gravador, foram quase duas horas de voo e mais quatro de estrada até chegar à cidade goiana de São Jorge, onde fica a entrada do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.

No caminho, achamos curioso que grandes lavouras que margeiam a estrada eram totalmente amarelas. Levou um tempo até entendermos o que era tudo aquilo: soja, crescendo em fileiras em propriedades que se estendiam por vários quilômetros.

Só ficou evidente que estávamos no cerrado quando começamos a nos aproximar da Chapada dos Veadeiros. A vista da janela do carro mudou de cor e de forma: o amarelo vibrante virou verde, e a monocultura deu lugar à diversidade da vegetação nativa.

O parque protege 240 mil hectares do bioma e centenas de espécies, nascentes e paisagens exuberantes. Unidades de conservação são consideradas pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) a principal estratégia para evitar extinções de espécies.

Nós fomos até lá procurar a arnica-do-cerrado. Essa planta, que demora para crescer e pode ser usada como anti-inflamatório, tem uma história que se mistura à do parque. A área já foi um polo de mineração de quartzo, e os garimpeiros usavam a arnica quando se machucavam no trabalho. Mas, mesmo depois do fim do garimpo na região, a extração da arnica continua —e agora ela corre o risco de sumir.

Quem nos ajudou a encontrar a planta foi o coletor de sementes Claudomiro de Almeida Cortes, que nasceu em São Jorge e dedica a vida à conservação da região. Ele já foi guia turístico e hoje, ao lado de mais de 60 famílias da associação Cerrado em Pé, junta sementes para replantar as partes devastadas do bioma.

Cortes nos mostrou os capins e arbustos que compõem a paisagem e são tão importantes para o bioma quanto as árvores de tronco grosso. A estimativa é de que o cerrado tenha mais de 12 mil espécies de plantas, sendo que cerca de 4 mil só existem lá.

A bióloga Isabel Schmidt, professora da Universidade de Brasília, explica que essa diversidade é o que faz com que o solo do cerrado consiga absorver água da chuva e alimentar as principais bacias hidrográficas do país.

Para esse sistema funcionar, são necessários tanto os capins, de raízes curtas, como os arbustos e árvores, que podem ser até três vezes maiores debaixo da terra do que são acima da superfície.

Até 2050, o desmatamento no cerrado pode provocar o desaparecimento de quase 400 espécies vegetais que só existem nesse bioma, segundo um estudo publicado na revista Nature Ecology and Evolution. Esse número é três vezes maior do que o de plantas extintas desde 1500.

No quarto episódio, o Habitat visita o cerrado e trata da importância de manter viva essa floresta de cabeça para baixo que sustenta a caixa d'água do Brasil.

.galeria(https://galerias.folha.uol.com.br/galerias/1711084594451752-bastidores-do-quarto-episodio-do-podcast-habitat.jsonp?callback=callback1711084594451752)

Pesquisa, roteiro e produçãoJéssica Maes e Natália Silva

Edição de textoMagê Flores e Maurício Meireles

Edição de somNatália Silva

MentoriaBia Guimarães

Edição de arteThea Severino e Kleber Bonjoan

Design e desenvolvimentoPilker, Thiago Almeida e Irapuan Campos

Coordernação de interativoRubens Fernando Alencar

Ilustrações e infografiaLuciano Veronezi

Versão impressaFernanda Giulietti e Maicon Silva

DivulgaçãoMateus Camillo e Rebeca Oliveira

ApoioInstituto Serrapilheira