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os 500 são outros

Ao desafiar um papado que via como corrupto, Martinho Lutero pôs em marcha a Reforma Protestante, que mudaria o curso da história e daria origem às neopentecostais no Brasil

Yoido Full Gospel Church, apontada em 1993 como o maior templo neopentecostal do mundo

Coreia do Sul

Megatemplo na Coreia do Sul já foi considerado maior igreja do mundo

Não são nem 7h quando, em frente à enorme catedral com vistas para o rio Han, que cruza as maiores cidades sul-coreanas, espreita-se a avalanche humana.

Mais de 12 mil fiéis se aproximam para participar do primeiro culto, cena que se repete sete vezes no dia –num único domingo, vêm até 200 mil pessoas.

Estamos na Yoido Full Gospel Church (Igreja do Evangelho Pleno), apontada pelo "Guinness Book", em 1993, como o maior templo neopentecostal do mundo, com 700 mil fiéis (hoje são 880 mil).

Um único culto pode atrair 25 mil pessoas –150% mais do que a capacidade máxima da réplica do Templo de Salomão que a Igreja Universal ergueu em São Paulo. Muitos ficam em pé para ouvir o reverendo David Yonggi Cho, fundador da Yoido.

Cho é uma figura controversa. Em 2011, foi criticado por declarar que o tsunami que atingiu o Japão foi um "aviso de Deus" a um país apegado ao "secularismo" e ao "materialismo". Também foi acusado por 29 anciões da Yoido de desfalcar os fundos da igreja em US$ 20 milhões –em um processo que a Justiça acabou arquivando.

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Tudo é milimetricamente organizado em seu templo, que conta com caixas eletrônicos internos. Mais de cem membros do ministério, com seus terninhos brancos, ajudam a guiar a multidão, sempre prontos a oferecer água.

São mais de dez telões espalhados por cinco andares. Num cantinho para estrangeiros, há fones para tradução simultânea em 14 idiomas, como inglês e espanhol.

Fé S/A

Cho se aposentou, embora ainda participe das atividades pastorais. Atual líder da Yoido, o pastor Lee Young-hoon conta que a receita do sucesso é a harmonia da equipe de 700 funcionários.

"Existem 40 comitês. Cada um administra uma área específica, como finanças e mídia. Todos os membros fazem sua parte, como em uma orquestra."

O orçamento anual da igreja é de US$ 100 milhões. "Tudo o que ganhamos aqui vem dos nossos colaboradores", diz Lee. A maior parte provém dos mais de 50 mil empresários que integram a comunidade e fazem doações.

A dinâmica lembra uma megacorporação, com plano financeiro e metas de expansão. Por mês, chegam à congregação cerca de mil novos fiéis. "O crescimento é a vida da igreja. Se não crescer, ela morre. É preciso se expandir."

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Tática de conquista

Em 1887, missionários americanos levaram o protestantismo à Coreia. A tática de então para conquistar os orientais foi amparar a construção de escolas, como a Universidade de Yonsei, primeiro centro universitário privado do país, além de hospitais.

O grupo levou uma vertente mais conservadora da religião –que continua em voga na Yoido. Quando o pastor Lee fala que o casamento gay não pode ser permitido, os milhares de fiéis presentes aplaudem veementemente.

O protestantismo sul-coreano teve seu boom nos anos 1970 e 1980, no pós-Guerra da Coreia (finalizada em 1953). A pobreza e a vontade de reconstrução foram terra fértil para igrejas protestantes.

Em 2015, o censo do país mostrou que a religião predominante na Coreia do Sul era a protestante (19,7%). Até 2005, o budismo liderava, mas a taxa caiu para 15,5% dez anos depois. A maioria dos sul-coreanos (56%) não declara preferência religiosa.

O avanço evangélico não deve aumentar muito, diz Sangkeun Kim, professor de teologia da Universidade de Yonsei. Tempos de bonança podem ser um desafio e tanto para líderes religiosos.

"Nesse momento, estamos com dificuldade para encontrar o lugar da igreja na sociedade coreana. Elas costumavam ser uma zona de conforto para os pobres", afirma.

Mas megatemplos ainda são pop no país, e um dos motivos é o apego do coreano em "pertencer a grandes grupos", diz o professor. "Todo mundo tem celular da Samsung, pois assim se sente parte de uma 'comunidade' que tem o suporte dessa holding."