Menos favoráveis aos nudes, mulheres sofrem mais com vazamentos
Mandar nudes pode até ser encarado como algo lúdico, que apimenta relacionamentos e gera memes, mas também representa um problema. E crescente.
Se alguém recebe uma foto de homem, fala ‘nossa, que merda’. Se é de uma menina, a foto se espalhaJoão Godoy, estudante
A ONG SaferNet, que oferece auxílio psicológico a vítimas de vazamento de fotos íntimas, atendeu a 224 casos desse tipo no ano passado, um crescimento de 120% com relação a 2013 (foram 101 ocorrências). Mas o isso não reflete o número de vítimas do chamado pornô de vingança, ou “revenge porn”, porque muitas vezes as vítimas têm medo de denunciar ou pedir ajuda e ser ainda mais expostas.
Isabela*, 15, é uma das vítimas da exposição indesejada. Colegas da escola da menina criaram um grupo anônimo no WhatsApp com o objetivo de divulgar fotos íntimas suas para todo o ensino médio. As imagens não mostravam seu rosto, mas estavam vinculadas ao seu nome.
“Eu fiquei muito mal emocionalmente, me sentindo muito culpada”, diz a garota, cujo maior medo é que as imagens cheguem até seus pais. “Eu não tinha conhecimento de que isso poderia me prejudicar para o resto da vida.”
Essa falta de percepção das possíveis consequências devastadoras de mandar fotos íntimas não é uma característica somente dos adolescentes, segundo a psicanalista Marielle Kellermann.
“A comunicação virtual fica em um espaço meio obscuro, sem um limite definido entre o que é o mundo interno, das fantasias, e o mundo externo, da sociedade.”
O caso do vazamento das imagens de Stênio Garcia e de sua mulher, na semana passada, mostram ainda um outro lado perverso da história. As consequências para homens e mulheres perante o problema são bastante distintas.
Enquanto o ator global levou a questão de forma bem humorada, dizendo que não via problema em ter sido exposto com a sua mulher em uma situação íntima, e que não gostaria de prestar queixa, ela classificou o episódio como “crime bárbaro” e fez questão de ir à delegacia.
Tanto que 81% dos casos atendidos pela SaferNet são de mulheres. E a maior parte dos outros 19% são de homens que marcaram encontros on-line com outros homens e passaram a ser ameaçados de ter sua orientação sexual revelada.
“Trata-se de uma questão de gênero. Geralmente os homens heterossexuais não procuram ajuda e não sofrem grande consequência. As mulheres sofrem um impacto social grande”, afirma a coordenadora psicossocial da SaferNet, Juliana Cunha.
Uma pesquisa do Instituto Qualibest feita na semana passada com 579 pessoas corrobora essa diferença: 41% das mulheres são totalmente contrárias ao envio de nudes, pois podem ter sua vida arruinada. Entre os homens, esse número é bem menor, de apenas 22%.
O estudante João Godoy, que montou um grupo de WhatsApp com os amigos para trocar imagens íntimas, diz que não tem medo de suas fotos vazarem pele fato de ser homem: “Se alguém recebe uma de homem, fala ‘nossa, que merda’. Se é de uma menina, a foto se espalha.”
GUIA DO NUDE
9 dicas para tirar fotos melhores e se proteger
1
Luz é tudo. Em geral, uma iluminação que propicie contrastes mais suaves (que esconda algumas partes e mostre outras) são mais interessantes que luzes completamente uniformes. Você consegue isso se posicionando próximo a grandes fontes de luz, como janelas e abajures
2
Antes de começar a fotografar, analise o local, seja ele o seu quarto, uma cachoeira ou qualquer tipo de locação. Mas lembre-se, a luz é sempre mais importante
3
Clique menos, pense mais. As fotos mais legais serão na maioria das vezes resultado de um pequeno toque de planejamento. Movimente-se no espelho e aprenda a ver fora da câmera qual é o seu melhor ângulo
4
Caso esteja fotografando outra pessoa, evite dar direções muito específicas. As pessoas não estão acostumadas a atuar e a fingir emoções. Se quiser que uma pessoa sorria, não a peça para sorrir, faça uma brincadeira ou conte uma piada
5
Quer fazer imagens íntimas? É bom ter sempre um pé atrás. Evite mostrar seu rosto e marcas que o identifiquem, como tatuagens ou pintas. Se você tem muito medo dos riscos, não compartilhe suas fotos via internet
6
O melhor a fazer é apagar seus nudes, mas, se quiser armazená-los, tome cuidado. Uma maneira eficiente é compactar os arquivos em uma pasta .zip com senha. O mesmo vale para o celular. Existem aplicativos gratuitos que permitem criptografar mensagens ou esconder imagens, como o Private Photo Vault
7
Nunca mande o mesmo nude para pessoas diferentes. Caso a imagem vaze, fica praticamente impossível de saber quem foi o responsável
8
Se suas fotos vazarem, procure ajuda o mais rápido possível. Quanto mais tempo demorar, mais a foto pode se disseminar, e mais difícil vai ser rastrear os responsáveis. ONGs como a Safernet oferecem auxílio psicológico e dão orientações na esfera jurídica
9
Em alguns estados, existem delegacias especializadas em crimes cibernéticos, mas você pode fazer a denúncia em qualquer delegacia. Tire “prints” das imagens e registre-as em um cartório de sua cidade, assim a validade do documento não poderá contestada em um futuro processo judicial
Fontes: Neto Macedo, autor do projeto Libertine, Juliana Cunha, da ONG Safernet, e advogada Gisele Truzzi