Habitat

um podcast sobre extinção e o que a gente tem a ver com isso

episódios da série

Água some das planícies e deixa cervo sem refúgio no Pantanal

Animal precisa de áreas úmidas para viver, mas bioma enfrenta terceiro ano de seca

Corumbá (MS)Logo que escolhemos o Pantanal como um dos destinos do Habitat, soubemos que esse bioma exigiria uma dose generosa de flexibilidade. Já no planejamento, vimos que a viagem teria que acontecer no limite do nosso prazo, no final do mês de maio, para escaparmos do período mais intenso da cheia na região.

Mas, chegando a Corumbá (MS), ficou evidente que o nosso problema não seria o excesso, mas a falta de água.

O Pantanal funciona com pulsos de inundação. Todos os anos, os rios enchem e a água transborda pelos campos. Depois, ela escoa para fora da planície pantaneira, e os campos secam. Tudo isso muito devagar, ao longo de vários meses.

Esse ritmo organiza a vegetação: áreas que escapam da cheia têm árvores mais altas e trechos de floresta, enquanto lugares que alagam são cobertos por capins e plantas aquáticas.

Estávamos lá em busca de um animal ameaçado de extinção que vive nesses pontos alagados, o cervo-do-Pantanal. Porém, pelo terceiro ano consecutivo a região não encheu, e faltava água nas áreas que normalmente seriam úmidas.

Com isso, o desafio ficou bem maior. Nosso guia, o veterinário e pesquisador da Embrapa Pantanal Walfrido Tomas, tinha garantido que seria fácil encontrar o cervo, mas até ele foi pego de surpresa pela severidade da seca.

Foi só no segundo dia de expedição, depois de muitos quilômetros rodados em estradas de terra e três trocas de pneu, que achamos o bicho em um pequeno corixo (canal que liga lagoas e brejos ao rio).

Segundo maior mamífero do Brasil, o cervo-do-Pantanal está na lista de espécies vulneráveis do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Ele é especialmente ameaçado pela caça e pela destruição das áreas úmidas para construção de hidrelétricas e uso da agropecuária.

Desde 1985, o Pantanal perdeu 70% da área de superfície de água, segundo levantamento feito pelo MapBiomas, projeto que mapeia o uso do solo no Brasil. A chuva que cai na região vem da Amazônia -floresta que vem perdendo capacidade de gerar umidade com o avanço do desmatamento.

Soma-se a isso o fato de o Brasil ser muito vulnerável à crise do clima, como explica Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas. De acordo com cenários traçados no relatório mais recente do IPCC, a maior parte do Brasil vai ficar muito mais seca e quente.

Esse mesmo documento concluiu que a crise climática atual, causada pelas atividades humanas, é irreversível e sem precedentes -e que o tempo para evitar que as previsões mais sérias se concretizem está acabando.

No sexto episódio da série em áudio, o Habitat explica como as mudanças climáticas ameaçam a biodiversidade e mostra que a seca do Pantanal pode ser uma pista do futuro em um planeta mais quente.

.galeria(https://galerias.folha.uol.com.br/galerias/1712369034296395-bastidores-do-sexto-episodio-do-podcast-habitat.jsonp?callback=callback1712369034296395)

Pesquisa, roteiro e produçãoJéssica Maes e Natália Silva

Edição de textoMagê Flores e Maurício Meireles

Edição de somNatália Silva

MentoriaBia Guimarães

Edição de arteThea Severino e Kleber Bonjoan

Design e desenvolvimentoPilker, Thiago Almeida e Irapuan Campos

Coordernação de interativoRubens Fernando Alencar

Ilustrações e infografiaLuciano Veronezi

Versão impressaFernanda Giulietti e Maicon Silva

DivulgaçãoMateus Camillo e Rebeca Oliveira

ApoioInstituto Serrapilheira